Dia desses me disseram que eu não tinha medo de me entregar, que eu tinha era preguiça de pensar, de pensar sobre mim, onde eu estava errando, em tudo o que aconteceu nos meus últimos relacionamentos e fazer um balanço de tudo que vem dando errado, para que assim eu pudesse assumir a parte que me cabe, mudar e tentar fazer diferente nas próximas vezes.
Okay, admito que fui pega.
Pode ser isso também, afinal, é fácil fazer um balancete e constatar que você também fez merda, é mais fácil ainda dizer “eu vou mudar”, mas mudar de fato, não é tão fácil assim.
Existem coisas, digo, feridas mais profundas que certa vez doeram tanto que acabaram criando um tipo de memória por erros, quer dizer, sabendo o quanto vai doer tocá-la novamente, você prefere fingir que tudo melhorou e segue em frente. Vez em quando pensa nela, acha que a vida vai ser melhor se tratá-la de uma vez, mas daí lembra da dor e bom, é melhor deixar assim.
Algumas mudanças vão além de um corte de cabelo ou uma nova tatuagem, algumas mudanças vão além de ser mais paciente e saber ouvir, algumas mudanças tem a ver com olhar-se no espelho e finalmente dizer “meu Deus, como eu sou linda”, para que então você possa enfrentar o mundo ciente de que todas as pessoas são bonitas, inclusive você, para que finalmente você possa olhá-las de frente e amá-las sem se desculpar por isso. Algumas mudanças tratam-se de insegurança, aquela que você cultiva desde os cinco anos de idade quando riram da sua cara por que você pediu para ir fazer xixi, ao invés de dizer “eu quero usar o banheiro”, aquela insegurança que não lhe permite pensar em voz em alta, olhar nos olhos e amar de corpo de alma.
Então ao saber de tudo isso o que você faz? Nada.
Você se sente com oito anos de novo, tentando entender pra que diabos serve o mundo e esse coração que acelera toda vez que aquele menino bonito passa no corredor.
Enquanto isso as pessoas que te conhecem repetem o mantra: “Faz alguma coisa, você não tem mais oito anos!”
Pois é, não tenho.
Não tenho e o quero como nunca quis ninguém, mas quero também poder olhar em seus olhos e dizer: “Eu te quero” e não culpá-lo caso ele não me queria de volta. Não ME culpar caso ele não me queira de volta. Eu quero dizer em voz alta todos os meus pensamentos e não sentir o corpo queimando como quem comete uma terrível travessura. Quero falar o que penso com a certeza de quem viveu cem anos.
Mas primeiro eu quero entender como cutucar a ferida vai diminuir a minha dor.