São Paulo e a rua sem saída

postado por Bruna Vieira
19 de fevereiro de 2025

Quando mudei pra São Paulo eu tinha 17 anos, foi em 2011. Terminei o ensino médio, juntei uma grana com os primeiros trabalhos publicitários aqui do blog, fiz as malas e entrei no ônibus na rodoviária lá em Leopoldina, Minas Gerais. 10 horas de viagem. Sem ter parentes aqui. Hoje me parece um movimento arriscado e corajoso, mas na época foi como se eu nem conseguisse enxergar outro caminho pra minha vida. Era como se dentro da minha cabeça eu já estivesse aqui.

Só que conviver na internet é diferente de conviver ao vivo. E eu fui pra internet justamente porque era tímida, introvertida, insegura, etc. Então os desafios que eu enfrentei aqui nos primeiros meses tem mais a ver com compartimentalizar na minha cabeça questões pessoais, pra profissionalmente conseguir dar conta do recado.

São Paulo não é uma cidade fácil, mas principalmente se você não tem certeza do que veio fazer aqui. Porque a cidade grande te ensina a querer mais, e muitas vezes a querer o que nem é pra você. Que não te preenche por dentro porque nunca fez parte da sua vida.

São Paulo exige muito da gente, mas também nos acolhe com os acessos. acesso a arte, gastronomia, pessoas interessantes com visões diferentes do mundo, pessoas de fora, oportunidades, etc.

Lembro que nos primeiros meses na cidade eu vi e vivi muitas coisas pela primeira vez, e existia dentro de mim o sentimento de ser uma pessoa observando tudo de fora. Por incrível que pareça, foi bom porque eu consegui traduzir essa visão no blog, nos textos, na vida. Mudar pra São Paulo era o sonho de muita gente, e eu estava vivendo isso. Mas era estranho também voltar pra casa, em Minas, e já ser uma pessoa considerada de fora. Era como se a minha vida lá tivesse continuado sem mim. Meus amigos continuaram se encontrando, foram pra faculdade, casaram, etc. Existia uma incerteza estranha no ar e ela me manteve ocupada. Um medo daquele ser o último mês, o último ano, de trilhar um caminho sem saída, faz sentido?

Por um intervalo de tempo foi como se eu não tivesse mais um lugar meu. Então eu fui me apegando a uma única coisa: conquistar a segurança financeira, juntar grana, comprar meu apartamento, mudar a vida dos meus pais, ter algumas garantias mesmo. Isso me custou alguns anos da minha vida e memórias que eu nem tenho mais porque vivia pensando na próxima coisa que eu tinha que fazer, mas pra mulher a emancipação financeira significa liberdade. E aí eu viajei bastante, morei em outros lugares do mundo, e foi quando eu finalmente entendi.

Depois que eu me adaptei em São Paulo, eu conseguiria me adaptar em qualquer lugar do mundo. Não só porque aqui já é difícil e hostil pra caramba, mas porque eu provei pra mim mesma que quando eu estou confortável com as minhas escolhas, fica mais fácil bancar cada uma delas.

Ser mulher e se mudar pra uma cidade nova sozinha é também aprender a conviver com o medo. Isso é algo que eu tento administrar até hoje e tem um impacto grande na minha vida, mas é aquela coisa, né?! Um medo de cada vez.

*Essa foi a minha participação especial no episódio dessa semana do Simples, um projeto lindo de duas amigas queridas. Transcrevi aqui o escrevi sobre a experiência de mudar para uma cidade grande depois de viver uma infância no interior de Minas Gerais. Para conhecer o projeto e escutar aos outros episódios, aperte aqui.

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