Sempre ouço dizer que confiança é como cristal: uma vez quebrada, juntar os cacos torna-se impossível. Conhecemos alguém, ficamos próximos da pessoa e, com o tempo, começamos a depositar diariamente parcelas de confiança nela. Nessa hora, o tempo funciona apenas como uma fachada para algo que, inexoravelmente, falaríamos com essa pessoa algum dia. Algo como: confio em você de olhos fechados. Clichê. O roteiro é tão natural que o indício de termos um final feliz é previsível. Até outro clichê, também inexorável, entrar em ação: a decepção. Sempre ouço dizer que todos irão nos decepcionar: cabe a nós decidir por quem vale a pena sofrer. Mas acabamos sofrendo por todos. Também é natural. Mas é um caminho com volta, ao contrário da confiança. Se alguém quebrou o cristal que sustentava o relacionamento, uma só vez basta. É o tipo da coisa que só se sentir dá pra entender. O pé atrás com aquela pessoa será inevitável, aconteça o que for. Infelizmente não há receita para esse tipo de situação. Falar para escolher os amigos ou o namorado com cautela vai soar tão mentiroso quanto um traidor de confiança. Afinal ninguém entra num relacionamento pensando no dia em que ele vai terminar. Ou num jogo pra perder. Ninguém nunca vai saber se aquele alguém em que confia não é confiável se antes não confiar nele. A decepção é a conseqüência que temos que sofrer por atitudes impensadas daqueles que mais amamos. Para isso, outra frase que sempre ouço me vem à cabeça. É a de que decepção não mata: ensina a viver. Eu sei, continua clichê, mas é porque acontece com todo mundo mesmo. Ou você acha que essas frases são repetidas toda hora por mero acaso? O segredo não é formar um muro invisível por dentro impedindo o contato das pessoas: o segredo é fazer parecer que esse muro existe para ver quem o ultrapassaria pra chegar até você.