Certa vez, vendo um desses programas que passam à tarde, do tipo que nem vale à pena mencionar o nome, vi uma psicóloga dizendo que muitas de nós simplesmente atraem o tipo de cara errado porque boicotam a si mesma. Traduzindo, por algum motivo que só você pode entender, muitas vezes se sente atraída pelo cara errado porque não se permite ser feliz.
O programa inteiro não fazia sentindo algum, mas a afirmação da tal psicóloga ficou martelando na minha cabeça. É claro que ninguém tem bola de cristal e seria maravilhoso se pudéssemos saltar do barco antes que ele afunde de vez.
Bem, eu diria que não dá pra saltar, não sem nenhum dano, não sem se molhar. Mas com certeza podemos optar por não embarcar no que seria uma viagem furada. Lógico que é muito difícil, principalmente por que as pessoas tendem a mostrar o melhor de si no começo, então é quase uma missão impossível identificar um cafajeste logo no primeiro encontro. Ou no segundo. Ou no terceiro.
Mas sempre há esperanças. Eu disse quase impossível. Existem alguns fatores, como a carência, por exemplo, que nos levam a ignorar sinais óbvios de que cedo ou tarde seu barquinho vai afundar.
Quando conheci meu ex-namorado, ele me disse que acabará de sair de uma relação complicadíssima há menos de uma semana. Eu decidi ignorar, mas sabemos que um relacionamento não termina de um dia para a noite, que uma semana é pouco tempo e as chances de os pombinhos voltarem eram enormes. Eu não precisava ter parado tudo, mas poderia ter ido devagar. Não ter criado expectativas. Escolhi arriscar, e os dois voltaram.
Em outra ocasião, ao chegar em casa e checar meu orkut e msn, dei de cara com um convite de amizade interessante, aceitei, começamos a conversar. Um tempo depois começamos a sair. Contudo, como este mundo é uma vila, um amigo me contou que ele era do tipo que saia adicionando todo mundo nas redes sociais, fazia papel de bom moço, beijava quantas pudesse e depois desaparecia. Chequei a história e conheci duas garotas que conheceram ele na mesma situação. Mas pergunta para a anta aqui se ela parou de ver o moço? De jeito nenhum. Só no dia em que descobriu que ele adicionou uma das suas melhores amigas e saiu com ela também. Depois óbvio que chorei as pitangas, fiquei com raiva, roguei pragas, mas no fundo eu sabia que a culpa era minha. Toda minha e de mais ninguém.
Porém não posso afirmar que o objetivo de tudo isso é boicote. Como já disse, pode ser carência, aliás, é mais provável que seja. Depois de um tempo sozinhas, começamos a enxergar qualquer casinho como “romance-com-potencial-para-virar-namoro”, pior, fingimos não ver as lacunas enormes deixadas pelo caminho, por acreditar que esperamos demais e que poderemos perder uma grande chance de ser feliz.
Eu já fiz isso. Já vi amigas fazendo. Aceitamos entrar em um relacionamento meia boca, por medo de ficarmos sozinhas ou não encontrarmos ninguém melhor.
Ao contrário do que esperam, não posso finalizar o texto com lindas considerações e fórmulas de recuperar a auto-estima. Mudar não é fácil. E fica pior quando crescemos com a ideia de que todo mundo nasceu para ser par, porque hora ou outra, você acaba se sentindo desconfortável na posição de impar, e aceita qualquer negócio para se sentir bem novamente.
Lógico que para mulher, essa cobrança é maior. Chega uma época em que fica insuportável visitar avós, tias e primas, por medo de ser alvo de perguntas a respeito de sempre estar sozinha.
Mas e daí?
A naturalidade é o principal ingrediente para uma vida, digamos, saudável. Parece papo de vó, mas tudo acontece exatamente quando tem que acontecer. E quando o sorriso no rosto dá lugar a um semblante pesado com dizeres “Meu Deus, preciso de um namorado!!”, ficar sozinha torna-se um fardo e isso aumenta as chances de você segurar o braço de qualquer um e dizer “Vambora!”, mas não preciso nem dizer que sem auto-estima e amor próprio, cedo ou tarde até ele vai querer largar seu braço.
É como dizem, antes só do que mal acompanhada. Eu só não sei porque a gente insisti em esquecer isso!