Olha, eu não quero estragar nada, e não; não tô rejeitando você. De forma alguma, nunca, jamais. Mas é que eu preciso falar uma coisa. O quê? Não, é algo necessário, importante. E não consigo. Pára, falo sério. Saí de cima de mim, não vêm com beijo e a química irresistível, que a gente já sabe que existe. Só deixa eu pensar cinco minutos e organizar tudo aqui dentro. Agora, não. Um tempinho, só. Eu vou falar, só queor falar direitinho, sem dar margem pra erro nenhum. De uma maneira que tu compreenda, e eu me sinta saciada em exprimir o que tá fora de compasso. Não posso continuar te enganando, e não quero frustração – nem da minha parte, nem da tua. Abrir o jogo então, me parece a melhor saída. Ou então, a única. Mas fica difícil formar uma ordem cronológica de falas, deitada aqui, e com cócegas e beijos no pescoço, toques de leve. Tá, vamos ver a novela, e depois eu falo. Prometo. Chega de ser curioso, eu vou ter que falar. Tá, tudo bem. Ei, não desliga a televisão. Não, por favor. Eu quero ver o capítulo de hoje, e se a gente desligar, pode até perder aquele outro programa que vai passar depois. Eu prometo o que eu cumpro, você sabe. Então agora relaxa, e deixa que eu falo quando tu menos esperar; te surpreendendo. Muito melhor, não? Hm, ok. Você que sabe. Ah, não fica nesse silêncio. Isso me corta por dentro, fico impelida a falar, e nem sei se é a hora, como colocar posto à mesa tal assunto, se você merece meu segredo. Fala alguma coisa. Qualquer palavrinha. Esse olhar terno, agora não; combinado à tua quietude me faz quase pular em cima de ti, e é exatamente o que eu não posso fazer. Embora, queira. Muito. Mas, não. Não vai dizer nada? Reizinho mandão, tudo tem que ser na hora que você quer, e quando almeja, onde deseja. Comigo, não.
Também não sou fã desses monólogos, me cansam. Mas se você não disser uma palavra apenas, é nisso que minha oratória se transforma. Um monólogo por opção. Tudo bem, eu entendo que você esteja se sentindo rejeitado, mas não é isso. O problema não é com você, é comigo. Não vejo como um problema, na verdade. Questão mesmo, fica mais bonito e expressa melhor como lido com tudo isso. Sim, você não deve estar entendendo nada, mas é isso. Não se assuste, nem se espante. É tudo verdade. A questão é totalmente minha, e foi pura escolha até agora. Tá captando a charada? Mais ou menos, ok. É que dizer assim reto, e sem subterfúgios, fica tão feio, tão sem graça…Mas tá quase. Liga a luz. É melhor, eu prefiro.
Ah, acha que sabe o que é? Sim, é isso. Fiquei vermelha? Ação e reação, né. Compreensível. Ou melhor, você me compreende? Que ótimo. Que lindo. Não fala muito mais, se não me emociono. Esperava outra reação, da tua parte. É que, escuta, eu preciso de segurança. Foi por isso que me mantive intacta. Eu simplesmente não quis seguir o rumo das circunstâncias, e ninguém que valesse à pena atravessou o meu caminho. Até agora. E na verdade, talvez eu tenha me fechado um pouco, sim. As pessoas me acostumaram tanto a ser só o meu corpo, a olhar apenas pra ele e nem pensar em alma, essência, que fui perdendo a esperança em ser creditada, realmente amada. Me querem apenas a carne. Enxergam nada além do que existe por fora, e eu acabo sentindo isso. Nas ações, nas palavras, no feeling. E daí, é a parte em que eu pulo fora. Tenho esse amontoado de relacionamentos desconstruídos, pela metade. Como quem sente o perigo, e corre pra longe. Uma chapéuzinho assustada, que sempre escapa do lobo. Por tanto fugir, se encontra cansada. Bem isso. Não sou produto, sabe? Nem quero me sentir assim. Prazo de validade, pra quê? Com você, como é? Não sei. Ainda é cedo, né. Tudo tem ido tão bem até agora, vamos indo no curso do rio, dos caminhos da vida. Bom é ouvir que pelo menos, você me respeita, e admira a minha condição. Fiquei feliz! E se não te falasse isso hoje, que pra mim é importante, além de te enganar quanto à tudo isso, por tempo e possibilidades, estaria enganando a mim mesma também, acredito. Foi na hora certa, essa nossa conversa. E os caras que eu ia, e voltava? Ah. Eles foram os que menos me levaram à sério, talvez. Faltava o que te falei, a segurança das atitudes, da presença ali, no dia seguinte. Ou depois, e sempre. Vi tantas amigas se despedaçarem, absortas em remorso e arrependimento. Prometi que, comigo não seria assim. Diferente, sim. Como tudo que eu gosto, em que coloco à mão. Ou vejo tudo isso como um jogo de baralho: quando não me sentia pronta, tinha pessoas que poderiamos chamar aqui de “certas”. Entretanto, quando senti que era a hora, o momento tinha chegado, só me apareciam pessoas mais despreparadas que eu, em todos os quesitos. Não me vinham as cartas necessárias, sabe. E pode ser você. Como, pode não ser. Falei, e que alívio. Ah, você vai me respeitar? Esperar a minha hora? Tudo o que eu queria ouvir. Não dá pra ver o meu sorriso? Então, sinta ele. De perto..E aumenta o volume, que a cena de agora é forte!