Outro dia achei uma foto antiga atrás da cama e lembrei da minha infância. Essa frase é clichê, eu sei, mas parece que foi ontem que eu ainda me olhava naquele espelho e via no reflexo uma garota tímida atrás de um óculos redondo da turma da Mônica. Acho que já estou ou me sinto velha o suficiente pra escrever sobre como o tempo tem passado rápido.
Já estou no terceiro ano, e há alguns anos atrás, quando via aluno do ensino médio pensava: Nossa, como eles são velhos, grandes, e adultos. Ficava louca pra chegar nessa fase e ter certas liberdades. Que bobice. Jamais imaginaria que algumas coisas daquela época fariam tanta falta.Como por exemplo, as viagens de fim de ano. Meu pai e o meu tio combinavam um dia do mês, e em dois carros, todos seguiam em direção a Itaoca, uma pequena cidade do Espírito Santo.
Na véspera da viagem eu nem dormia. Ficava fazendo planos mentalmente e colocando coisas inúteis na mala. Antes das quatro da madrugada, o despertador fazia todo mundo levantar da cama. Enquanto todo mundo se arrumava e disputava o café da manhã, a buzina do carro do meu tio fazia toda a vizinhança acordar.
Depois de muita correria, e alguns berros da minha com o meu irmão por implicar comigo, lá estávamos todos nós dentro do carro. Eu já dopadona de Dramin, claro. Das viagens em si me lembro pouco, só da parada, onde eu comprava um salgado qualquer e um suco de laranja. Eu amava ouvir as piadas do meu tio. Ele sempre fazia todo mundo rir. Como eu era a única menina entre os sobrinhos, o assunto era sempre masculino. Mas eu nem ligava, na verdade, adorava.
Em meio a ansiedade e o cheirinho de mar/sal no ar, eu só me sentia realmente feliz quando via na beira da estrada umas árvores especificas da região. Não vou dizer o nome porque não tenho certeza. Mas, aquele era o sinal que a praia já estava bem próxima. Nessa hora eu e meu irmão ficávamos olhando entre as ruas daquelas cidades estranhas pra ver quem avistava o mar primeiro. É óbvio que o meu irmão sempre ganhava.
Chegando lá, encontrávamos com os outros primos e tios que só víamos nessa época do ano. Finalmente uma prima da minha idade. Engolíamos o almoço e corríamos para o mar como aquelas tartarugas que acabaram de nascer. Confesso que eu nunca gostei de ficar biquina, da areia, e do sol, mas estar ali com todo mundo me fazia realmente feliz. Construir castelos, levar caixote, juntar conchinhas… Ah, que saudade.
Depois de uma tarde inteira no sol – e muito picolé e milho verde – todos iam em direção a casa do meu avó. Lá descansávamos por algumas horas, e depois, nos aprontávamos para sair. O point da cidade na época – e provavelmente até hoje – era uma pequena praça com lanchonetes e jogos. Eu e meus primos passávamos a noite jogando aqueles joguinhos, e pra terminar a noite bem, um super lanche cheio de maionese e briguinhas entre primos. Essa era a rotina dos quatro dias de férias. Que infelizmente, pareciam durar poucos segundos. Nós voltamos para casa mortos de sono – mas eu ainda precisava do dramin – e com com uma cor bem diferente da que chegamos.
Hoje mais de sete anos depois, algumas coisas mudaram. Meu pai não curte mais viajar de carro pra longe, meu irmão está fazendo faculdade fora, minha prima ainda mora lá e quando vem em Leopoldina quase não conversamos e os meus outros dois primos só vejo muito de vez em quanto, em uma festa ou coisa do tipo.
O que me dói é saber que a vida de hoje em dia é assim. Que uma hora ou outra cada um vai seguir seu rumo, e em alguns anos, talvez, nem lembremos mais o nome um do outro quando nossos filhos perguntarem quem é aquele da foto. Uma pena, pela família, pelo amizade e pelo amor.
Dizem por aí que a gente cresce e fica mais esperto. Será mesmo?