Saudade é um sentimento ingrato e controverso, semelhante à satisfação feminina: nunca é plenamente feliz.
Ora temos e lamentamos, ora não temos e desabamos em hipóteses fantasiadas de abandono e solidão.
Saudade não tem procedentes, muito menos casa. Fica largada à sorte em meio a acontecimentos que rezamos para se tornarem inesquecíveis , e acaba por ficar transitando sem saber seu lugar de origem.
É também inconveniente e dispensa avisos de chegada; Leiga como é, apega-se até ao que nunca viu ou sequer teve.
Depois de tudo, estranho mesmo é perceber que nada tem a ver saudade com distância. Afinal, quantas vezes já nos pegamos cheios de intuições e vontades de alguém que está a pouco mais de vinte passos de nós? Não há compreensão ou argumento plausível que justifique as reflexões e as batidas aceleradas quando acontece. Sendo assim, ao primeiro impulso, pegue o telefone ou saia de casa; Mande cartas, grite alto e corra ao encontro daquilo que causou o lapso.
Faça de uma dorzinha irremediável algo grandioso ao final do seu dia.