Imagem: steffilynn!
Eu sempre fui uma apaixonada pela música. E também pelos músicos. Meu quarto tinha paredes que não eram nada parecidas com uma parede normal quando eu tinha 16 anos: eram muros rabiscados com os nomes e fotos de todas as bandas que um dia eu fui fã. Na verdade, não fui, ainda sou. Mas minhas paredes hoje estão mais comportadas e não expressam mais o que um dia expressaram: o meu amor pela música. Ah, e meu amor pelos músicos! Muito além de ser amante da música, sou fã, tenho meus ídolos.
Tenho certeza de que todo mundo tem o seu, ou pelo menos já teve um dia. Seja um cara de uma banda, uma cantora, um jogador, uma atriz, um escritor, um jornalista, um pensador, um filósofo. Aí, a gente se vê naquela situação que as pessoas gostam de chamar de amor platônico. Mas quem sou eu pra entender o amor platônico se ele é o conceito mais incompreendido de Platão? O amor ideal, perfeito, distante e impossível. O amor sem contato, amor ao caráter, à atitude, à imagem. Nem ele mesmo soube explicar com clareza o que era esse amor. E olha que Platão explicou muita coisa pra humanidade! E mais incompreensível do que manter o amor pelo seu ídolo, é se sentir capaz de fazer tudo e qualquer coisa por ele. Como pode? Muitas vezes, eles vivem a oceanos de distância de nós, mas sentimos que pularíamos na frente de um trem por eles. Tudo bem, acho que nem todo mundo faria isso de verdade, só um fã bem louco, não é? Mas ultimamente tenho visto tantas coisas do tipo, que não duvido de mais nada. Se aquele cantor assediado começa a namorar, a escolhida é alvo de xingamentos e ameaças sérias e agressivas. É de dar medo! Algumas pessoas encaram esse amor como algum tipo de obsessão. Como se nosso ídolo fosse só nosso, de mais ninguém. E na verdade, o coitado, que também é um ser humano como todos nós, nem sabe que a gente existe. Essa é a parte ruim, ou nem um pouco saudável de ser um fã. Mas isso não é uma novidade dos dias atuais. A Beatlemania, o nome da loucura das fãs de Beatles nos anos 60, conseguia juntar milhares de jovens que faziam de tudo – até romper grades – pelos seus quatro ídolos. Até aí, tudo bem, é só muito amor de fã mesmo! Porém, a coisa ficou bem feia pro lado de um dos queridinhos da Inglaterra. Quem se lembra da história do fã que matou o John Lennon? O cara foi um dos últimos a ganhar um autógrafo do músico, o que aconteceu algumas horas antes de atirar nele. Dizem que o psicopata ainda era obcecado com outras celebridades e planejava matar mais algumas. Louco!
Não se sabe qual foi o primeiro fã da história, e por isso mesmo temos a certeza que essa vontade de idolatrar alguém vem lá do começo da humanidade, e é claro que não está nem perto de ser extinta, não é? Como tudo na vida, esse amor só é saudável se for moderado. Sonhar com o ídolo até que é normal. Gastar a mesada ou o salário inteiro com um ingresso para o show, tudo bem, vai! Mas quando não existe distinção entre a vida real e a vida ideal – aquela impossível ao lado do amor platônico – é alerta de obsessão!
Até hoje, algumas amigas minhas me perguntam porque eu ainda tenho essa paixão pela música, pelas bandas, pelo artista, e eu só tenho uma resposta: não sei porquê, só sei que é amor. É platônico, mas é amor! Como vou entender, se nem Platão soube explicar?