Caixa de entrada

24 de maio de 2012
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Conheci você em uma dessas ruas sem saídas que a vida faz a gente pegar. Sem saber de muita coisa, nos esbarramos por acaso em frente aquele antigo prédio vermelho – que você jura até hoje ser vinho. Tanta coisa no chão fez a gente se confundir e ao mesmo tempo, se entender. Éramos parecidos demais pra ter alguma coisa a ver. Trocamos links, amigos e depois, encontramos juntos a saída. No começo eu te enxergava como um possível amor, confesso. Talvez até tenha sentido alguma coisa e criado expectativa para o segundo ou terceiro encontro. Mas depois de algumas horas, semanas e meses ao seu lado, sem nenhum interesse aparentemente recíproco, desisti. Minha regra sempre foi: Evite trocar sorrisos por beijos.  

Desde então você se tornou o cara dos seus sonhos. Não éramos príncipe e princesa, mas estávamos sempre juntos lá no baile. Dançando, bebendo, ou sei lá, roubando doces pra deixar na geladeira até o próximo final de semana. Aprendi aos poucos a parar de enxergar segundas intenções. Era permitido carinho, era permitido amor, só não era mesmo permitido aquela coisa que todo mundo dizia ser a definição do que é real e do que não é: Compromisso.

Passamos os piores e os melhores momentos ao lado um do outro. Mesmo, e talvez principalmente, quando você se mudou pra Califórnia por uns tempos para fazer aquele tal intercâmbio. Lembro que gastei todo meu salário de estagiaria em uma ligação onde sem dizer praticamente nada, consegui explicar o fim de um namoro e como ter você sua presença fazia falta.

Ah, que saudade daquela época em que a gente se encontrava pra jogar o tempo fora, criar pratos extraordinários e assistir nosso filme predileto. Você dizia que eu era uma garota diferente. Daquelas que qualquer cara do mundo se apaixona com cinco minutos de conversa – e não, como as outras, com apenas um olhar. Eu achava graça e dizia que aquilo não era um elogio. Era na verdade uma maneira educada e fofa de dizer que eu era mais legal do que bonita. 

Agora estamos aqui, trocando emails e tentando há semanas marcar um simples café em uma quinta qualquer. Não é irônico? Você tem seus filhos, e eu o trabalho dos meus sonhos. Parece que conseguimos finalmente o que tanto queríamos. Pena que pra isso, tivemos que remar um pra cada canto. Mas vai, a culpa não foi nossa. Nem sempre o amor tem o mesmo ritmo. Nem sempre quem amamos é quem nos faz feliz. Seja como for, quando der, me liga. Será que ainda tem meu número?