A indecisão na pós-adolescência. A dificuldade de seguir no caminho escolhido. Entre ser teenager ou adulto, você se sente como Peter Pan fazendo previdência privada. Uma falta de ser tanta de coisa ao mesmo tempo. Saudades daquele suposto eterno misto de vontade e possibilidade.
Envelhecer é um pouco como seguir em frente enquanto as vozes dentro da gente silenciam. Aquelas que te contavam sobre o que ser quando crescer, a cor do primeiro carro, a viagem das férias, seu tipo de roupa, seu tipo de homem. Cada escolha analisada no travesseiro podem lhe fazer sentir como um estranho a você mesmo. Fui eu mesmo que quis isso para mim? Quem disse?
E nessa ânsia de encontrar um reforço positivo, é tão fácil transformar a vida da gente num verbete de wikipedia. Aceitar a opinião alheia como único norte pra dúvidas. Duvidar-se. Criar regras e padrões que nem sempre funcionam, mas dão um mapa, um guia, ainda que sob o risco de tornar-se um quebra-cabeça com peças que não são nem suas.
Nesses tempos em que a vida de todo mundo é tão exposta e comparada, como não poderia deixar de ser, é comum se sentir perdido quando se mede pela regra dos outros. Estou saindo tanto quanto deveria? Ganho pouco? Amo demais? Devo trocar de carro? De namorado? Sou feliz?
Pode parecer sufocante sentir que sua vida não se move tão rápido quanto a dos outros. Estamos condicionados a oferecer aos outros o que eles esperam da gente. E, se isso não acontece, criamos desculpas. Não é preciso se desenvolver acompanhando a matilha só porque nasceu em 1990 e há livros sobre a Geração Y. Não é o autor quem vai conviver com as escolhas que você faz para a sua vida. Está tudo bem em ser diferente. Há muita margem entre ser hippie e ser um controlador de vôo. Há muita margem entre o que é o outro e o que é você.
Muitas das perguntas que tenho sobre o que quero ser depois de crescer não são nem minhas. São ecos de gente que está bem mais confusa do que você. E o que a gente faz quando percebe que grande parte dos nossos problemas são frustrações adolescentes adquiridas em frente aos espelhos dos outros? Fala um pouco menos, sente um pouco mais, arranja problemas de verdade e aprende a confiar no seu silêncio. Nada fala mais alto que ele. Ele é você em paz. Tem algo diferente disso que você queira ser?
Sobre o autor: Felipe Luno (no twitter @felipeluno) é jornalista, escritor, coleciona pequenos pecados amorosos e acredita em um mundo com menos carão e mais carinho. Para ler outros textos acesse www.dramaking.org
*Na tag “entre aspas” divulgamos textos de autores brasileiros. Escreve? Deixe seu link nos comentários. Quem sabe seu trabalho não aparece aqui no blog Depois Dos Quinze?