Todo ano alguém termina o ensino médio. O nerd que reclamava por tirar nove e meio. A apaixonada que passou mais tempo se recuperando das brigas do que se preparando para a prova de álgebra. O engraçadinho que dizia qualquer besteira para chamar a atenção da turma toda. E você, que nunca fez parte de nenhum grupinho, pelo menos não que eu saiba, mas que assim como todos os outros alunos, está enfrentando o vazio pós termino do colegial. E agora? Vocês me perguntam. E agora, respondo, a vida começa. A hierarquia dos grupos vai a baixo e é cada um por sí. Ou melhor, cada um por sua respectiva nota no vestibular.
Primeiramente, parabéns! Por ter conseguido sobreviver a todos esses anos de colégio, sabe? Mais cedo ou mais tarde vão te dizer que essa foi a melhor época da sua vida e talvez um dia você até concorde com isso, provavelmente quando conseguir o primeiro emprego e tiver contas para pagar, mas por enquanto, todas as lembranças são frescas e acordar na hora que o seu corpo julga ser a certa, é tão surreal que às vezes você escuta despertadores invisíveis.
Enquanto tudo parece fora do lugar e seus melhores amigos mudam para longe, os dias passam. Seu estoque de sessão da tarde aumenta e as temporadas de séries por assistir, diminuem. Você percebe então, recebendo a atualização de algum colega no facebook, talvez do trote na faculdade, que somos protagonistas da nossa própria vida e que por mais que até então tenhamos nos considerado figurantes da história de alguém, nosso destino é totalmente independente dos outros e dependente da gente.
Como assim? Vamos voltar no tempo.
É na escola que aprendemos a lidar com o outro. Antes disso, nós éramos os tchutchuquinhos do papai e da mamãe. Cheio de defeitos, mas perfeitos. Pirracentos, barulhentos e egoístas. Lembram? Até então, ninguém tocava no nosso brinquedo. Aí, na escola, nos ensinaram que não somos os únicos melequentos do mundo e que existem pessoas bem diferentes. Que sei lá, preferem o power ranger amarelo.
Crescemos mais um pouquinho e nos damos conta que ser diferente pode ser um grande problema. Que a teoria do sucesso do Big Brother Brasil, sim, do BBB, não é tão diferente da que usavam na segunda série do colégio. Se você tem um grupo de amigos, você fica. Se você não tem, você vai. Para casa, para o intervalo, para os passeios especiais, sozinho. Ninguém precisava te aceitar. Só você. Mas como não faziam questão de fazer isso, porque diabos você também teria que fazer? Muito mais fácil se afastar. Problema deles. É o que eu pensava. Na verdade, o problema também era meu. Fiz com se tornasse ao levar a sério o que me diziam. Também aconteceu com você? Bom, tudo bem, mas o tempo passou.
Você teve que entender porque enfiaram uma letra bem no meio da expressão numérico. O porque ciências, que era uma matéria tão legal, talvez sua preferida, se transformou em uma decoreba sem fim. Foram tantos finais de semana para conseguir gravar o nome daquela plantinha. Agora você já nem lembra mais, certo? Eu também não.
Dessa época, lembro das primeiras conversinhas de namoro. Algumas meninas, bem adiantadas, já gostavam e desgostavam de alguém. Eu queria o novo carro da Polly de Natal. Então, algum tempo depois, eu me apaixonei. E dessa vez, não era pelo professor ou pelos alunos mais velhos que pareciam tão adultos, mas que na verdade só pensavam no churrasco de domingo. Eu estava fazendo corações na última folha do caderno e era pelo garoto que sentava na minha frente. O que nem me notava. Você também conheceu alguém assim? Se você tem boas amigas, elas fizeram questão de contar o segredinho. Resultado? Todos achando graça e você, sem ter a menor ideia do que fazer.
De uma hora para outra suas melhores amigas se tornam desconhecidas. Mais bizarro que isso só o tamanho da fórmula que fizeram você decorar para a prova final. Na época, você jurava que não conseguiria tirar mais de seis, e quando viu o boletim, sete e meio. Passou de ano. De novo. E de novo, até que um dia, era o último. Aí você teve que ir em pelo menos cinco lojas para tentar encontrar o vestido perfeito. Qual foi sua música de entrada? E o destino da viagem? As escolhas foram feitas, e de um jeito estranho, não ver mais o uniforme de sempre passado na gaveta te liberta. Agora você é quem você sempre teve vontade de ser. Tenta.