Acho que vou te esquecer e te coloco em uma vírgula errada no meio de um texto. Eu já tentei te apagar do meu pensamento, mas, como você pode ver, a tentativa foi frustrada. Eu posso até continuar tentando – e olha que eu sou teimosa como uma mula, como diria meu pai – mas você vai ficar aqui enquanto eu escutar aquela música que você acha insuportável, ou quando passar por qualquer carro amarelo e me lembrar de você contando que é a cor de carro que mais odeia na vida. Eu vou te ouvir nos meus silêncios e te enxergar nas minhas escuridões. Então, eu meio que desisto. Esquecer você? Não vai rolar.
Eu queria dizer que eu sou uma mulher independente e, por isso, não dependo de você. Não dependo mesmo. Tenho braços, pernas, inteligência e força de vontade. Mas não é esse o ponto. Meu coração meio que depende de você para saber um pouco sobre os limites de querer bem uma pessoa. Ou sobre o poder que você tem de ser totalmente dispensável e, ainda assim, se fazer tão insuportavelmente necessário.
Você me abraça e o mundo faz sentido. Mesmo que girando para o lado contrário. Pode isso? E você me ensina, me arranca do chão, todas essas coisas que eu li nos romances água com açúcar que eu insisto em gostar. E a gente briga, e grita coisas sem sentido, e se machuca com palavras e tudo mais. Ainda assim, eu não consigo te odiar. Porque só de pensar em você muito tempo longe de mim, eu quase explodo.
Eu não quero dizer que é amor, porque eu já disse tantas vezes que era amor (e não era) que a palavra perdeu a força. Então, fica aqui o meu segredo mais sincero, minha declaração mais forte: é mais que amor. Bem mais.
É um vírgula errada colocada no meio de um texto, é seu sorriso, sua respiração e o jeito que me faz rir em uma ligação qualquer no meio de uma madrugada cansativa. É mais que amor. É a liberdade de andar de meia e pijama velho pela casa e saber que você não vai sair pela porta procurando alguém mais bonita. É saber que posso ficar doente e chata e insuportável, como sempre fico, e você vai ficar aqui ao meu lado, mesmo que para aguentar minhas patadas e minhas crises.
É saber que você não precisa nem nunca precisou de nenhuma declaração para me amar – e por isso mesmo é quem mais exige meu pulo do penhasco. Então, não é amor. Não é eu-amo-você. É só você. Qualquer coisa. Não amor. Não só amor. É simplesmente mais que amor. Muito mais.