Já imaginou se no lugar daquelas propagandas de “fique magra sem cirurgia” a gente tivesse a proposta acima? Que sociedade seria essa?
Para começar, nós seríamos, sim, magros. Não esqueléticos, nem anoréxicos, mas a obesidade diminuiria muito. Porque ser gordo não é saudável. E quando você se toca de que as calorias que você come devem ser inferiores às que você gasta, pronto. Temos uma dieta bem-sucedida. A gente seria inteligente a ponto de pensar o seguinte, enquanto encara um pedaço quentinho de pizza (ou uma fatia bem caprichada de bolo): “A longo prazo, é melhor eu não comer isso. Minha dieta vai dar resultado e, enfim, poderei comer outras gostosuras com moderação.” PRONTO, RESOLVI A OBESIDADE NO MUNDO.
Agora, outra implicação da sociedade que valoriza a inteligência. Em vez de darmos dinheiro de esmola, daríamos livros. Com dinheiro, dá pra comprar comida? Dá! Mas também dá pra comprar drogas ou armas. Com livros, o resultado é um ser pensante que teria fome de conhecimento. Logo se daria conta de que cometer crimes ou pedir esmola não é a melhor alternativa pra um ser humano. Procuraria meios de dar o melhor para sua família e construiria um lar equilibrado, com paz e tolerância. Quanto maior o grau de escolaridade, menor a incidência de crimes violentos. Pode até ser que essa pessoa não seja genial, mas vai achar algo que a faça feliz e a permita dormir à noite com a consciência limpa. PRONTO, ACABOU A CRIMINALIDADE E POBREZA.
Numa sociedade inteligente, não haveria corrupção na política. Primeiro, porque os eleitores pensariam em critérios mais prudentes na hora de votar, não apenas em benefícios a curto prazo ou slogans de campanha religiosos. Além disso, os próprios políticos, entendendo plenamente a situação do país e sabendo como corrigi-la, se recusariam a receber propina, pois o bem do país estaria acima de tudo. Seu maior objetivo seria ver toda criança alimentada e educada, todo idoso saudável e bem-cuidado e todo trabalhador, empregado e feliz. PRONTO, NADA DE CORRUPÇÃO.
E como seria a moda, num mundo tão voltado para o interior e tão pouco para o exterior? Os modelos seriam saudáveis: nem magros demais, nem gordos demais. Haveria, inclusive, uma aceitação maior do que é um “padrão de beleza”. Numa sociedade inteligente, todo mundo entende que a genética nem sempre é boa com todos, mas que independentemente disso, todos temos nossas próprias belezas. Os estilistas não seriam apenas designers, seriam inventores. Sempre em busca de um tecido mais sustentável e confortável. Provavelmente também usariam seu intelecto pra criar fazendas com cheiros que atraíssem pessoas inteligentes, ou até uma bolsa onde você pudesse sempre carregar seus livros favoritos sem pesar nos ombros. Meu sonho, particularmente, seriam sapatos que corrigissem minha postura, mas sem precisar passar por toda a dor de usar um salto alto. CHEGA DE DORES E SOFRIMENTO PELA MODA.
Eu poderia continuar pra sempre enumerando as maravilhas desta linda sociedade que acabei de criar. — Inclusive, quem quiser entrar e fazer parte, sinta-se à vontade! Não exigimos teste de aptidão, nem de QI. — Mas cada vez que eu abro os olhos, relembro de onde estou.
Estou num mundo onde a beleza é o que importa — mas só se for dentro do que já estabeleceram pra mim.
Estou num mundo onde o prazer é o que manda — exceto quando eu quero comer um doce super calórico ou ouvir uma música diferente do que meus amigos ouvem. Não importa que me dêem prazer: pro mundo, eu estou errada.
Estou num mundo onde quem investe seu dinheiro em livros, ensino e viagens culturais, é otário. Eu poderia estar fazendo uma lipo, poderia estar comprando um carro. Mas não, estou aqui fazendo a pior coisa que essa sociedade poderia testemunhar: estou pensando.