Não sei ao certo com qual idade eu comecei a notar as meninas. Sei que foi na escola. Durante as aulas estávamos ocupados em fazer o que nos era mandado pela professora. Um olhar de relance era o mais perto que era possível chegar delas.
No recreio, dificilmente as brincadeiras coincidiam. Nós engolíamos a comida, corríamos, suávamos, nos sujávamos e éramos felizes. Elas corriam um pouco, sentavam, descansavam e mastigavam os seus lanches enquanto conversavam sobre algo muito interessante que a gente não podia saber. Mal sabiam elas que nós também conversávamos. Nem sempre com palavras. Mas menino entende menino. Um olhar e nós sabíamos quem era a preferida do nosso amigo. E com ela ninguém mais mexe ou sonha. Menina não faz tanta falta. Ainda.
Vem a aula de Educação Física, com um jogo de menino contra menina. É a chance. O conto de fadas acontecia na nossa cabeça. Um simples polícia-e-ladrão virava uma prova de 100 metros rasos. A gente adorava mostrar pra elas o quanto éramos rápidos, fortes e espertos.
E aí mostrávamos o quanto éramos bobos. Quando a menina preferida achava o menino, era fatal. Mirava e vinha correndo. Ele fugia. Mas não tão rápido… desacelerava. Sentia o toque dela alcançar o seu braço. Ela conseguia. Ele também. Ela ganhava a brincadeira. Ele, uma paixão.