Agora que a única luz desse quarto vem da TV e dos olhos dele, fico meio sem saber onde colocar minhas mãos, pernas, alma e coração, enquanto deito na cama que não é minha, mas que de alguma forma me deixava confortável como jamais estive. Enquanto isso, o meu vilão preferido ri e pergunta porque estamos tão sérios, enquanto eu só consigo tentar imaginar o que se esconde nesses pensamentos que ele tanto protege.
Quantas portas existem nessa sua zona de conforto? Por quantas delas eu já passei? E especialmente: Eu quero mesmo encontrar o que se fecha dentro de ti?
O problema não é ele, nem o modo como me irrita falando e fazendo qualquer coisa que já sabe que eu odeio, nem aquele gosto musical medonho, nem o modo como eu me sinto perfeitamente confortável em meio a todo esse desconforto, nem como ele vem invadindo cada parte ínfima de tudo aquilo que eu chamo de pessoal, de eu…
O que incomoda mesmo é não saber como sentir tudo isso.
Porque agora ele crava esses olhos verdes-escuro dentro dos meus e parece que encontra tudo que procura na minha alma. Porque nós ficamos só olhando um ao outro por tanto tempo que eu cansei de contar, e eu só penso em como ele pode ficar ainda mais bonito quando a luz é baixa e o brilho que emana dele tão imenso.
E essa é exatamente o tipo da coisa que eu venho fugindo, me protegendo, correndo contra. Mas, que parece me segurar forte como os braços dele na minha cintura quando eu finjo que quero ir embora e ele finge que não liga, mas me segura mesmo assim.
E como diabos isso ficou assim em menos de uma semana?!
Foi tão rápido que eu já nem sabia o tamanho do abismo que se formara entre o que eu queria e o que eu penso quando estou aqui, envolta nos braços dele, querendo na verdade descobrir qual o caminho pra o ele que ninguém nunca viu. Eu gosto de devastar tudo aquilo que se esconde. Eu sou a tipo da pessoa que abriria a caixa de pandora só pra saber porque não se deve abrir.
Provoco, riu e instigo, porque assim penso que talvez, só talvez, ele um dia me mostre tudo aquilo que me deixa tão curiosa e me faz vir aqui, colocar sorvete e dúvidas em mim. Eu ainda tento entender aquele primeiro beijo depois da provocação que fiz, enquanto me sentava na cadeira próxima dos joelhos dele. Aquele segundo a mais dos teus lábios nos meus foi uma hesitação? O que passou por ti enquanto me beijava naquele primeiro segundo em que tu decidia se continuava ou não?
Porque o que passou por mim ainda não tem nome. Ou talvez tenha. O teu.