No colégio eu achava que não conseguia entender álgebra e mecânica quântica. Aí, numa dessas noites frias em que me obrigam a sair de casa, eu conheci você e esses olhos azuis sempre tão inquietos. Não foi amor à primeira vista. Porque, sinceramente, eu te achei meio besta. Algo em você me incomodava. Talvez a vontade de provar para todo mundo que você não precisava provar nada a ninguém. Pois é. Te achei arrogante. Perguntei baixinho para aquele nosso amigo que nos apresentou como ele te aguentava há tanto tempo e ele me respondeu em outras palavras o que agora, só agora, eu entendi: você é o tipo de cara que a gente precisa explorar.
Primeiro fisicamente. Porque você se veste exatamente como se vestia quando era um pirralho. Vi suas fotos. Isso é tão ridículo que eu tenho vontade te tirar peça por peça toda vez que você entra por aquela porta e me olha por cima do óculos, com cara de quem sabe o que tô sentindo, mas não dá a mínima. É tão assustador nunca ter essa certeza. Suas curvas desvirtuaram meu horizonte. Olho da janela a todo instante, são tantos prédios, tantas luzes, e um deles é o seu, uma delas é a sua. Será que ainda está acesa a essa hora? É tão ruim quando não te vejo apagá-la.
Digo que é insônia, que preciso ir ao médico o quanto antes, mas o nome disso é amor.
Desculpa! Já tivemos essa conversa e o combinado foi ninguém se envolver. O problema é que se tem uma coisa que as comédias românticas me ensinaram, é que esse acordo não funciona no final das contas. Nosso coração já tá preso dentro do peito, lembra? Ele não dá a mínima para as leis que o cérebro inventa.
Talvez o seu esteja por aí.
Eu fico lendo as nossas conversas antes de dormir. Só para ter certeza que não estou ficando louca, mas isso, admito, tem me enlouquecido. Porque me sinto uma idiota deixando pistas por toda a parte. Dizendo tantas besteiras só para você achar graça. Isso não me faz ser quem ela foi, não é mesmo?
Queria que você não acreditasse mais em fantasmas.
Repare bem, tem um outdoor em frente a janela do seu quarto. Uma frase na camisa que te dei. Mais do que um refrão na música que ouvimos e cantamos juntos aquela vez. Eu realmente não compreendo. Se você é mesmo a pessoa que mais me entende no mundo, já deveria ter percebido o que todos os outros estão cansados de saber. Eu tô na sua. Eu tô completamente na sua. Tô mais na sua que na minha, se quer saber.
Isso te assusta? Pois eu também estou com medo.