O ambiente já era velho conhecido, amigo do peito praticamente. Uma sala de aula, dezenas de mesas dispostas em fileiras separadas e cadeiras desconfortáveis. Em uma lousa preta, as velhas informações que eu já estava cansada de saber: horário em que poderia entregar o gabarito e horário do fim da prova. Mas na minha cabeça, antes mesmo que me entregassem as folhas de teste, só tinha uma dúvida: e aí, é isso mesmo?
Eis uma pergunta que me fiz pelo menos um trilhão de vezes antes de decidir qual seria meu grande chute final. Publicitária, jornalista, advogada, atriz, veterinária? Não é que eu não fizesse a mínima ideia de qual profissão eu iria seguir, acontece que havia pelo menos uma dezena de profissões que eu achava atraente e nas quais me via trabalhando. Aí batia aquela incerteza chata: é isso o que eu quero fazer para o resto da vida? E a coisa desandava. Travava total.
Com 16 ou 17 anos, você pouco sabe o que quer da vida. A minha vida, pelo menos, havia se resumido até então a: escola, alguns cursos paralelos, trabalhos temporários e minha família. Para falar bem a verdade, a maioria de nós pouco tem ideia de como é o mundão lá fora, aquele real, de gente grande, salários e contas para pagar. No entanto, a pergunta que mais ouvimos durante todos os anos até aqui é uma só: o que você quer ser quando crescer?
Eu “cresci” e continuo sem saber o que eu quero ser. A profissão eu escolhi, aos 45 do segundo tempo. Já estou na fase final, com sensação de que a escolha foi certa. Mas decidi assim: de supetão. Podendo errar feio e ter que voltar atrás e dizer que fui pelo caminho errado. E ok, né? Quem é que não erra a esquina e precisa procurar o retorno ao menos uma vez na vida?
De vez em quando ainda me bate aquela dúvida: “e aí, é isso mesmo?”. Já me desesperei mais pelas minhas incertezas. Hoje, apenas penso que tudo bem. Tudo bem continuar me questionando aos 21. Tudo bem me questionar aos 25. E se eu ainda tiver dúvidas aos 40, que mal tem? O Pedro Bial disse em uma música, que você já deve ter ouvido por aí, que as pessoas mais interessantes que ele conhece não sabiam, aos 22, o que queriam da vida; e muitos dos quarentões que conhece continuam sem saber.
Talvez eu seja louca de achar isso sensacional. A vida dá a chance de a gente se reinventar a qualquer hora. E depois que eu cresci, foi isso o que reparei: ter certezas imutáveis na vida não faz de ninguém mais feliz. Feliz mesmo nessa vida é quem tem a leveza e a coragem de se transformar, mudar de opinião, voltar atrás e correr em busca de novos sonhos. Porque a vida só se torna imutável de verdade quando ela acaba. E curta ou longa, enquanto não acaba, tem muita coisa pra rolar.