Ilustrações feitas pela Carol, do No Meu Mural.
Nunca fui a garota mais magra ou a mais gorda da sala, então, até o ensino médio pouco me importava a combinação de números exibido na balança. Pra falar a verdade, eu só pesava quando ia fazer alguma coisa na farmácia pra minha mãe, por curiosidade. Eu também não comprava roupas sozinha, então o número do manequim não era uma das minhas maiores preocupações. Se a calça não fechasse ou a blusa ficasse um pouquinho apertada, tudo bem, aquilo só significava que eu estava crescendo.
Quando o corpo das minhas melhores amigas começou a mudar e gostar de um garoto deixou de ser apenas escrever sobre ele no diário, naturalmente, comecei a me olhar mais no espelho e fazer cobranças: por que diabos minha barriga não é retinha como a das outras garotas? Por que o meu peito tá demorando tanto pra crescer? Por que aquela calça estampada fica tão vulgar em mim? Por que nenhum garoto que me beijar na balada? Adicione tudo isso ao complexo de inferioridade por ter cabelo crespo, precisar usar óculos e ainda ser estrábica.
Ah, como é incrível ser adolescente.
Nunca sofri de bulimia, mas lembro que em um daqueles dias ruins, cheguei a ir ao banheiro, trancar a porta e colocar o outro lado da escova de dente na boca, forçando o vômito. Tinha lido sobre isso na internet e mesmo sabendo de todos os riscos, achei que conseguiria controlar e quando estivesse em um peso legal, simplesmente pararia de fazer. Por sorte, ainda na primeira tentativa, tive um baita nojo e nunca mais voltei a fazer.
Lá na casa dos meus pais a alimentação sempre foi relativamente balanceada. Besteiras só no final de semana e o combo arroz e feijão obrigatórios durante o almoço. Eu não sou nem um pouquinho fresca pra comer. Gosto de couve, abobrinha, carne moída, ovo frito, beterraba, quiabo, alface, almeirão e todas aquelas coisas que a maioria das crianças vira a cara e faz careta. Isso me proporcionou um crescimento bastante saudável, mas não tem como driblar a genética e o nosso metabolismo, né?
Ah, os exercícios físicos.
Bem, eu nunca fui boa na educação física. Pra falar a verdade, detestava já os primeiros minutos, quando ninguém queria me escolher pra ser da sua equipe na queimada e principalmente no voleibol. Eu não era tão ruim assim, viu? Só tinha pânico de imaginar a bola batendo direto no meu óculos então, independente das circunstâncias, fugia dela. Também já fiz aula de dança, natação, ballet, capoeira, jazz, jump e por último, academia. Eu até ficava empolgada no começo, mas depois sentia preguiça de continuar e acaba ouvindo minha mãe reclamar por ter gasto grana comprando uniforme e pagando matrícula atoa.
Depois do computador, do primeiro namorado e das avaliações finais complicadíssimas do CEFET, comecei a priorizar outras coisas na minha vida. Não sentia aquela obrigação de impressionar os outros, sabe? Já havia alguém no mundo que gostava de mim exatamente como eu era, e eu estava ocupada demais pra ficar me importando com que as outras pessoas pensavam. Sem exageros, mas jamais dispensando o hambúrguer do Digão (lanchonete popular lá em Leopoldina) e o pastel assado maravilhoso da Canto Verde (da cantina do meu colégio).
Quando eu vim pra São Paulo, minha rotina mudou completamente. Nunca fui boa na cozinha e o processo de adaptação quando você sai de casa aos 17 anos pra tão longe da sua família é complicado. Em alguns dias eu passava horas sem comer, em outros, comia um monte besteiras por pura ansiedade. Trabalhando em casa e caminhando poucas quadras até o metrô, é óbvio que o meu peso não continuaria o mesmo, né? Engordei 10kg em um ano. Nesse meio tempo muitas coisas aconteceram e eu já falei sobre a maioria delas aqui no blog.
O blog. Os looks do dia.
Existem várias categorias aqui no Depois Dos Quinze, e em uma delas, mostro e fotografo as roupas que tenho comprado e usado por aí. Eu me exponho de diversas formas, desde textos sobre sentimentos pessoais até fotos da decoração do meu novo quarto. Isso nunca foi um grande problema pra mim, sabe? Compartilhar momentos, conquistas e ideias. Todo mundo tem um jeito diferente de ver e se projetar no mundo, acho incrível o interesse das pessoas em acompanhar o que eu faço.
O problema é que nem todo mundo tem boas intenções.
Por sorte, depois de quase quatro anos lidando com leitores de todas as idades e mentalidades, aprendi que pra ser feliz é preciso ligar o foda-se. Não dá pra levar a sério absolutamente tudo o que escrevem no campo de comentários. Tentar agradar todo mundo é uma daquelas tarefas que consomem toda a nossa energia e que no final das contas, quando colocamos a cabeça no travesseiro pra dormir e o número de ~likes~ para de subir, não garante absolutamente nada. Aplausos não trazem paz de espírito, sabe? Muito pelo contrário, quando você tenta ser alguém que não é só para agradar e funciona, a tendência é a cobrança aumentar ainda mais.
E não é qualquer uma, viu? É a cobrança interna. A sua própria cobrança. O monstrinho que todo mundo alimenta sem querer quando deixa as pessoas influenciarem suas escolhas e a maneira que levam a vida. Isso vale pra tudo: peso, estilo, ideias, orientação sexual, profissão, medos, sonhos, viagem, relacionamento e por aí vai.
Fico imaginando o que se passa na cabeça das pessoas quando, num dia maravilhoso e ensolarado como hoje, elas decidem ir na foto dos outros e deixar comentários totalmente destrutivos e desnecessários.
Comigo não, baby.
Inclusive, aí vai um recado para quem faz esse tipo de coisa e ama virar o centro das atenções por alguns minutinhos na internet: se algo incomoda tanto ao ponto de te fazer perder tempo da sua vidinha preciosa, vai por mim, tem alguma coisa errada e não é com quem postou a foto.
Jogue terapeuta + o nome da sua cidade no Google e seja feliz.
Tô vivendo um dos momentos mais incríveis da minha vida, isso inclui muito trabalho e pouco tempo livre. Mas resolvi me dedicar a esse texto porque não é a primeira vez que vejo amigas, conhecidas e até algumas leitoras brigando pra me defender nas redes sociais. Aprecio e agradeço o carinho, mas infelizmente, responder esse tipo de comentário é fazer exatamente o que essas pessoas querem: receber atenção.
Eu nunca pesei tanto, isso é verdade, mas ao mesmo tempo, nunca me levei tão a sério ou me senti tão bonita como agora. E eu não tô falando só de amar minhas curvas, viu? Vem de dentro pra fora. Não é sobre aceitar os defeitos, é sobre aceitar as diferenças. Eu não me sinto na obrigação de seguir um determinado padrão porque a maioria das pessoas faz isso e muito menos porque sou uma formadora de opinião (sim, usaram isso como pretexto pra me criticar). Como disse um rapaz que trabalhava na Levi’s de Nova York e me viu provando um jeans tamanho 42, tenho o legítimo brazilian body. Adoro e acho lindo as meninas do lookbook com suas pernas fininhas e coxas que não encostam uma na outra, mas tudo bem eu não ser assim. Não vou me matar com dietas loucas e horas na academia, talvez eu até entre um dia, mas isso não precisa se transformar num problema. Comida e bunda grande não é problema, gente. É solução.
Então, vamos sair da quinta série e colocar as cartas na mesa de uma vez por todas?
Tenho 115 de quadril, pernas grossas e calço 39. Faço escova progressiva de três em três meses, uso aparelho pra arrumar meus dentes que ainda são meio projetados pra frente por culpa da mamadeira (só abandonei com 11 anos hehe) e quando tiro a lente de contato, continuo estrábica. Uso roupas que gosto e não necessariamente “valorizam” meu corpo. Adoro farofa com ovo, tenho a maior preguiça de fazer as unhas e de vez em quando choro por me sentir sozinha nessa cidade, mas ó, na maior parte do tempo sou muitíssimo feliz.
Ah, e no facebook eu nunca resisto e compartilho todas fotos de Minions e cachorros fofinhos. Diz aí, você que se importou e leu até o finalzinho do texto, algum problema?