Na véspera de Natal, enquanto as crianças esperavam ansiosas a visita do bom velhinho, nós, adultos, começamos a conversar sobre a lenda do Papai Noel. Alguns, sem filhos, defendiam a ideia de acabar com esse mito, esse blábláblá inexistente de coelhos da Páscoa, bons velhinhos e fadas do dente. Afinal, segundo eles, educar as crianças à base de mentiras desde tão cedo não pode ter consequências boas.
Comecei a pensar na época em que eu, inocente, tentava ficar acordada o máximo possível para espiar a chegada do Papai Noel. Quando preparava biscoitos e leite quente e deixava perto da árvore de Natal. Quando tinha medo de não me comportar durante o ano e acabar não recebendo meu sonhado presente. Lembrei também da grande descoberta, quando, ainda nova, uma amiga contou sem meias-palavras que tudo era uma grande mentira. E aí me senti traída, enganada, sozinha. Mas depois passou, e a vida seguiu.
Depois disso, eu pulei, automaticamente, para o lado das crianças “crescidas”, aquelas que sabiam a verdade e, ainda assim, mantinham o segredo para os mais novos. Como eu tinha primos pequenos, virei uma espécie de cúmplice dos meus pais e tios. Ajudava em toda a parafernália de Natal, chamava as crianças para o quarto para que os mais velhos pudessem aparecer com os presentes, fingia que ainda me animava com o Papai Noel. E essa também foi uma fase bem divertida.
Agora, já grande, eu realmente não sei o que é o certo a fazer. Não sei dizer se estas “inocentes mentiras” podem ter alguma consequência ruim para os filhos. O que eu sei é que, para mim, não teve. Afinal, assim que comecei a entender a coisa toda com mais clareza, achei fantástico o esforço que meus pais tinham para me fazer acreditar. Esconder-se, fantasiar-se, tomar o leite que eu deixava, acordar tarde da noite para encher a árvore de presentes, usar manhas e artimanhas para me fazer feliz…o que é isso além de um amor sem tamanho? Papai Noel pode até não ser o bom velhinho que eu acreditava na infância, mas, com certeza, vive na figura dos pais mais legais que eu poderia ter.
Acho, de verdade, que a beleza da infância está em brincar com o inexistente. Em imaginar, brincar, dar asas à criatividade, explorar coisas inimagináveis, ousar, acreditar em coisas que nós, adultos, já não acreditamos mais. Porque, um dia, a gente cresce e tudo se baseia em “ver para crer”. E a verdade nua e crua nem sempre é tão legal e fácil como a gente imaginava na infância.
Acreditar no Papai Noel é uma das partes divertidas de quando somos crianças. Ainda que não exista, ainda que, um dia, a gente cresça e descubra que era só mais uma grande mentira. Porque o que importa é que, durante um tempo, a gente desfrutou de um esforço enorme de uma família inteira para ver uma criança sorrir. E a gente sorriu. Então, desculpa, mas a ignorância, de vez em quando, é, sim, uma benção. Não é?