Há duas passagens na gaveta da sua escrivaninha. Presente meu, o último depois de tudo. A última lembrança que vou deixar com você, então fiz de tudo para que fosse inesquecível. Comprei duas passagens porque sei que você não é – ainda – do tipo de pessoa que larga tudo e encara a vida sem uma mão para dar. Por isso, convide uma pessoa que te faça sorrir. Muito. Não só para essa viagem, mas para tudo, querida. Para uma saída no sábado à noite, para curar um coração partido, para encarar um filme de terror em uma sexta-feira, quando você não tiver nada melhor para fazer. Privilegie as pessoas que te façam rir.
Mas não deixe que riam de você (o que eu sei que acontece muito). Você é maravilhosa, então muitos babacas vão tentar te fazer de idiota. Não deixe. Tome as rédeas da sua vida e encare de frente gente que acha que pode te passar para trás. Pegue as passagens em sua escrivaninha e faça delas uma entrada para uma vida nova: conheça gente interessante, mergulhe em outras culturas, peça demissão do seu emprego chato e se aventure em um mundo em que você não sabe como será o dia de amanhã. Eu adoraria ver como você se viraria em um mundo sem planos. Sei que você se sairia bem.
Arrisque-se, querida. Não tenha medo de se jogar mesmo depois de já ter quebrado tudo: principalmente, a cara e o coração. Hoje, só hoje, lembre-se de como é bom estar viva e livre e solta e saudável. E, então, viva. Do jeito mais louco que puder. Sem ligar para o que sua família vai achar. Sem pensar no que seus amigos vão dizer. Sem se importar com que os outros vão estar falando sobre você. Quem te ama, querida, te ama apesar de.
Eu sei que você consegue. Tudo. Se quiser, você consegue o mundo. Eu te conheço bem e sei que, por trás de todas as lágrimas, há uma mulher de rocha. Quando doer muito, segure sua respiração. Feche os olhos. Fique longe de todo mundo por alguns segundos. Chore até soluçar, se isso fizer as coisas melhorarem. E depois continue, querida. Que, no fundo, a vida é feita disso: continuar depois de tudo.
Me guarde no seu coração, nas suas memórias, nas suas caixas de fotos, nos seus álbuns de família e, se quiser, até em alguma parte do seu Facebook. Mas não se guarde. Não guarde seu coração. Não se prenda por tudo o que a gente foi, porque ainda há muita vida pela frente. Não se guarde por mim, porque o que eu menos iria querer na vida é que você deixasse de viver coisas por um amor que já não está. Por um amor que não vai voltar.
E viva. Apesar de tudo, apesar de qualquer coisa, independente do que acontecer. Pegue as passagens, rode o mundo, deixe doer até curar. E, quando passar, viva. Conheça um outro amor, jogue-se em uma nova paixão e mergulhe em relacionamentos diferentes do nosso. Porque essa é a maior prova de amor que eu posso lhe deixar, querida: te amar tanto (tanto!) a ponto de querer, do fundo do meu coração, que você ainda ame e seja amada. Muito…até o mundo acabar.