você está lendo Quando o diferente incomoda

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A pior e a melhor parte de trabalhar com redes sociais é que a gente sabe o que tá acontecendo no mundo o tempo inteiro. Todo dia surge uma polêmica nova pra movimentar a internet. Um repórter sensacionalista. Uma tragédia terrível. Uma enquete tendenciosa. E então, ali embaixo, imediatamente, surgem as opiniões alheias. Todo mundo tem algo a dizer. Até sobre aquilo que não entende. Até sobre aquilo que não lhe diz respeito. Ter uma opinião não é crime, mas confesso que às vezes saber o que todo mundo pensa é meio assustador. Mas não tem jeito, né? Lidar com o diferente é um desafio que todas as pessoas enfrentam durante a vida. Desde o primeiro dia no jardim de infância quando nosso coleguinha diz não gostar de super-heróis até no asilo quando o senhorzinho ao lado faz questão de assistir Datena todos os dias no último volume. Oh, céus!

Essa semana li a matéria da garota de 15 anos que apanhou na escola por ser bonita. Precisei ler o título umas duas ou três vezes pra ter certeza de que não tinha entendido errado. Ela foi espancada por duas colegas e teve traumatismo craniano simplesmente pelo fato de “ostentar” beleza. O quão assustador isso pode ser? No final das contas, quem é culpado nessa história toda? A mídia que impõe os padrões de beleza para as adolescentes, a família que não soube educar as filhas ou a garota, que nasceu com a “sorte” de ter essa aparência e se orgulhar disso? Eu não sei, mas isso me fez pensar sobre muitas coisas.

Dia desses publiquei no Facebook um desabafo sobre a maneira que as meninas tratam as garotas que aparecem na coluna “It Girl” ou “15 anos” da Capricho. Dizem que sempre foi assim, mas isso realmente não entra na minha cachola. Antes mesmo de ler a matéria ou saber o porque da pessoa ter sido selecionada entre tantas outras, algumas pessoas comentam: “mas ela é rica”. E o indivíduo ganha likes o suficiente pra ficar no topo da publicação. Agora eu pergunto: que culpa a garota tem de ser rica ou de ter nascido em uma família com condições? Desde quando isso é um defeito? E se a garota trabalhar duro pra comprar aquelas roupas? Se o sonho da família era dar uma festa incrível pra filha e para isso os pais trabalharam por anos? Sei lá, se a menina tiver câncer e aquela for sua última comemoração? Okay. Exagerei. Mas é preciso ser tão radical assim pra tentar mostrar o quão besta é fazer esses julgamentos maldosos sem pensar nas consequências ou se colocar no lugar do outro. Se serve de consolo tenho certeza que a revista não leva em consideração a grana da candidata ou as marcas que ela usa no look, mas sim a criatividade, qualidade da fotografia e público.

São histórias completamente diferentes, eu sei, mas que se encontram por um único motivo: sentimentos nada nobres como a inveja, ódio e a cobiça sendo potencializados e glorificados pela internet. Ou você acha as que as meninas combinaram a agressão fora das redes sociais? Posso jurar que existem grupos que fazem exatamente a mesma coisa, mas de maneiras diferentes. Talvez você até faça parte de um.

Fui adolescente outro dia, na verdade tecnicamente ainda sou, mas vocês estão vivendo isso agora, por favor, vamos conversar sobre esse assunto abertamente. Por que tanto ódio ao que é diferente? Isso incomoda ao ponto de querer externar compartilhando com os outros ou combinando humilhações em diferentes níveis? Isso faz com que você se sinta melhor? A tela do computador te dá mais segurança? Pois sabe o que eu acho? Esse sentimento não é tão diferente do que leva um indivíduo a espancar ou destratar um gay ou negro. Eles são diferentes e sabe o que mais? Todos nós somos. Alguns apenas não tem coragem de ser.