A primeira coisa que você tem que saber para ser uma escritora é: você sabe simplesmente que quer ser uma escritora. Fui clara? É assim: não sobra dúvida. Você começa a escrever e sente que é aquilo que quer fazer. Eu, quando percebi, já era.
Escrevia na escola, escrevia em casa, escrevia na máquina do meu pai – é, amigas, eu sou meio velha, na minha época nem tinha computador assim facinho. Mas eu escrevia e aquilo me trazia uma satisfação que eu nunca tinha sentido antes. Pensando bem, até hoje é assim. Nada me satisfaz mais do que escrever, e se eu fico muito tempo sem, começo a murchar e ficar nervosa, começo a perder o fio da meada da minha vida.
A segunda coisa que você tem que saber pra ser uma escritora é que não vai ser fácil.
Eu e a Bruna tivemos trajetórias peculiares, digamos assim. Eu também comecei a escrever na internet, em 1998, num mailzine chamado CardosOnline, que era enviado, imaginem que coisa, por email. Eram kbs e kbs de texto corrido, sem imagem, sem nada. De lá saíram escritores muito expressivos de nossa geração, como Daniel Galera, Daniel Pellizzari, André Czarnobai… Estão notando alguma coisa? Pois é, são todos homens. Eu era a única mulher. Aí o mailzine acabou em 2001 e eu fiz meu primeiro blog, o brazileira!preta, que foi um dos primeiros blogs super acessados no Brasil. Nesse blog eu publiquei trechos do meu primeiro romance, o Máquina de Pinball, o que causou uma baita confusão, pois todo mundo achava que o livro era o blog e o blog era o livro… Mas tudo bem. O que importa é que o livro saiu. Foi incrível, foi lindo, nunca vou esquecer meu primeiro lançamento.
Aí vieram as críticas. Já não é fácil ser mulher, as pessoas sempre vão te criticar pelos motivos errados, como a sua roupa, a sua aparência, a sua vida. No meu caso era um misto disso tudo, mas principalmente atacavam o estilo de vida que a minha personagem levava, que era muito parecido com o meu, sim, mas não era eu. Dificilmente isso ocorreria com um homem; ninguém dá pitaco na vida de homem, né? Vida de mulher parece que está sempre aberto a júri popular. Imagina então dar pitaco na vida da personagem? Parece conversa de maluco, mas aconteceu. Eu não dei bola, continuei fazendo minhas coisas e logo lancei meu segundo livro, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e estou prestes a lançar o sétimo depois de já ter tido a obra adaptada para teatro e cinema.
Onde eu quero chegar? Não é fácil escrever e temos que estar sempre preparadas para as críticas. Elas sempre vêm, muitas vezes são cruéis e geralmente não vão ter nada a ver com o que você está escrevendo, mas com a sua aparência física ou a sua vida. Sabe o que isso significa? Que não é pra se importar com elas. Pense que essas pessoas são viciadas em uma maneira de enxergar o mundo e se elas não conseguem se abrir pro que você está tentando dizer e preferem desviar o assunto, elas nem merecem a sua atenção.
Certa feita eu traduzi e mandei um trecho do meu primeiro livro para o filho do meu escritor preferido, que também é escritor. O pai é o John Fante e o filho é o Dan Fante. Ele adorou, me elogiou e disse algo que eu lembro sempre. Ele disse:
– Continue escrevendo. O resto é besteira.
E é isso que eu faço. Continue escrevendo. Esse é o meu conselho.
Deixo vocês com um poema de um outro escritor que eu amo, Charles Bukowski.
Jogue os dados.
Se você for tentar, vá até o fim.
senão, nem comece.
Se você for tentar, vá até o fim.
Isso pode ser perder namoradas,
esposas, parentes, empregos e
talvez sua cabeça.
vá até o fim.
isso pode ser não comer por 3 ou
4 dias.
pode ser congelar em um
banco de praça.
pode ser cadeia,
pode ser o ridículo,
chacota,
isolamento.
isolamento é a benção.
todo o restp é um teste na sua
resistência, de
quanto você realmente quer
fazer aquilo.
e você vai fazer
independente da rejeição
e das piores dificuldades
e será melhor do que
qualquer outra coisa
que vocês possa imaginar.
se você for tentar,
vá até o fim.
não existe outra coisa que vá te fazer sentir
isso.
você estará sozinho com os
deuses
e as noites se inflamarão em
chamas.
faça. faça. faça.
faça.
até o fim.
até o fim.
você guiará sua vida direto para
o riso perfeito,
a única briga boa que existe.