Assim como o cinema (e muitas, muitas, muitas outras), a literatura ainda é uma área bastante machista. Talentos femininos são desprezados e esquecidos no meio de obras de homens autores. Vocês se lembram da história de J. K. Rowling? A editora sugeriu que ela omitisse seus dois primeiros nomes (Joanne Kathleen) para que seus livros fossem consumidos também por leitores homens e, consequentemente, vendesse mais. Como se um livro escrito por mulher não merecesse a atenção.
Me responde uma coisa: quantas mulheres você conhece que leem livros escritos por homens? Todas, né? Agora, quantos homens você conhece que buscam e leem livros escritos por mulheres? Olha, acho que dá pra contar nos dedos de uma mão só (e olhe lá!). Há um super preconceito no imaginário masculino que um livro feito por uma escritora é ~literatura de mulherzinha~. Da mesma forma que foi denominado o gênero “chick-lit”, que é – nada mais, nada menos – uma palavra em inglês da literatura de mulherzinha propriamente dita. Pode um nome ter uma conotação mais pejorativa que essa? Não precisamos que rotulem a literatura dessa maneira, não, obrigada. Livros de escritores homens não são segregados com títulos do tipo “literatura masculina”.
Há um mundo enorme por aí, com autoras incríveis, poderosas, deusas, que são menosprezadas apenas por serem mulheres. Pouquíssimos nomes femininos estão nas listas de livros clássicos mundiais. Muitos livros de autoras nem são traduzidos para a nossa língua por não terem tanta visibilidade. E aí é que entra o projeto incrível da escritora Joanna Walsh, o #LeiaMulheres2014 (em inglês). Eu sei que já estamos em 2015, mas esse é o tipo de projeto que merece ser pensado e discutido em qualquer momento das nossas vidas.
Bom, a iniciativa de Joanna era fazer de 2014 um ano em que a literatura fosse debatida – principalmente no quesito desigualdade de gênero. Ela propôs um ano dedicado às mulheres, no qual leríamos e valorizaríamos as suas obras, dando oportunidades para conhecermos e descobrirmos o que elas têm a nos oferecer. Afinal, quanto mais mulheres lidas, mais se sentirão capazes, reconhecidas e serão contempladas ao redor do mundo. Esse tipo de projeto não precisa ser limitado a apenas um ano, não é mesmo?
Ok, mas por onde começar?
Por onde você quiser! Separei 9 escritoras e 9 obras, de gêneros diferentes, que são cruciais para a literatura, e você pode ir primeiro naquele que mais te chamar mais atenção. Claro que existem inúmeras outras escritoras por aí, só esperando para serem lidas. Vale a pena visitar o tumblr Leia Mulheres 2014 para mais sugestões de leitura.
Ler um livro feito por uma mulher nos coloca a par de uma outra visão de mundo. A leitura mostra outros pontos de vista, levanta questões e denuncia problemas que poderíamos nunca vivenciar. Ela treina a nossa empatia, fazendo com que a vida e o bem-estar do outro também seja importante. Talvez por isso seja tão necessário que os homens comecem a se aventurar nessa área. Para nós, mulheres, essa atitude é duplamente empoderadora. Ao lermos essas obras, valorizamos as escritoras, damos visibilidade e voz a um conjunto que está em desvantagem – não só no mercado editorial, mas na história mundial também.
Da mesma forma, ao lermos, nos fortalecemos como seres humanos e expandimos os nossos horizontes. Podemos nos identificar com as histórias e dar nomes aos sentimentos, afinal, compartilhamos as mesmas imposições por sermos do mesmo gênero. Algo como “eu sei como você se sente” do mundo literário. Além disso, eles nos estimulam a quebrar barreiras sociais e dão esperanças para poder continuar na luta por igualdade.
Valorizar as escritoras é fundamental, independente da plataforma onde elas se apresentam – seja em livros, jornais, portais ou blogs. Por isso, separei também 9 textos de 9 autoras brasileiras que expõem e discutem a relação da mulher na literatura. Vale muito a pena ler essas moças!
E já que estamos começando o novo ano, proponho um desafio a vocês. Que tal ler mais mulheres em 2015? Compartilhe as suas leituras com todo mundo usando a hashtag #LeiaMulheres2015. Vamos ajudar a discussão, iniciada por Joanna Walsh, ganhar uma proporção ainda maior. Topam?
Ah! E como sei que alguém vai levantar essa questão, fica aqui um trecho do texto (que linkei acima) da Martha Lopes:
“Diante desse cenário, muitos afirmam que não se pode fazer uma escolha com base no gênero do autor, mas na qualidade literária de uma obra. No entanto, o que é importante pensar é que não é possível fazer uma seleção justa e equilibrada quando a literatura feita por mulheres, em toda a sua riqueza e complexidade, não for disseminada aos leitores, críticos e curadores da mesma forma e na mesma quantidade que a literatura feita pelos homens. É esse questionamento que queremos despertar.”