Minha primeira vez em uma rede social foi em 2008. Lembro que criei um perfil no Flogão (e no Flogvip, Flickr, Meadd, etc) para compartilhar as centenas de fotos que eu tirava diariamente usando minha velha Yashica MY300. Se você ainda era criança naquela época, entenda: o cenário da internet em 2008 era bem diferente do atual. Estávamos começando a falar de blogs no Brasil e a maioria das pessoas ainda nem sonhava em ganhar dinheiro postando conteúdo na internet. Era um hobby. Como um scrapbook digital, que você organizava e se divertia escrevendo, editando e compartilhando parte da sua rotina com alguns amigos e, agora, um monte de desconhecidos.
Você provavelmente já sabe, mas a Bruna de antigamente costumava ser uma garota bem tímida e insegura. No fundo, eu tinha a sensação de que era invisível no meu ambiente social, principalmente na escola, e na internet era como se as pessoas conseguissem enxergar uma parte oculta de mim. Meus complexos da adolescência perderam força quando, aos pouquinhos, descobri uma nova versão de mim mesma.
Encontrar-se tem a ver com a opinião dos outros? Talvez. Foi importante pra mim saber que outras meninas ao redor do mundo também tinham problemas com o estrabismo, com a timidez e com o peso. Eu deixei de me sentir sozinha. Comecei a fazer parte de algo e isso foi o suficiente pra eu entender que todas as limitações que eu enxergava fora da internet só existam dentro da minha cabeça. Na internet, era legal ser diferente. Na verdade, tenho a impressão de que muitas das pessoas que criaram um blog naquela época se sentiam diferentes no mundo real e, de alguma forma, se encontraram no online.
Muita coisa aconteceu de lá pra cá. Surgiram novas redes sociais, que fizeram sucesso e depois desapareceram, além de um novo mercado de mídia, uma profissão com cara de hobby – que quase todo mundo gostaria de ter – e algum (muito) dinheiro envolvido. Vivi essa transição como blogueira aqui no Depois Dos Quinze e também como leitora de vários blogs nacionais e gringos.
O mundo é o mesmo, mas o jeito que enxergamos e consumimos a informação mudou completamente em muito pouco tempo. A internet tem um lado democrático, que inverteu a ordem das coisas. O termômetro do sucesso agora é outro. São os outros. Você não precisa mais aparecer na grande mídia (televisão, jornais, revistas, etc) pra ser considerado alguém importante. Ganhamos voz como indivíduos e somos todos de alguma forma influenciadores do nosso ambiente ou de nosso público. Isso vale para os seus 200 seguidores no Instagram ou para os 700 mil da Essena.
Existe um filtro? Existe uma fórmula do sucesso? É tudo realmente falso e superficial? Estamos nos tornando mais narcisistas a cada dia? Vivemos em função de criar uma vida perfeita para impressionar quem nos segue?
Agora estamos falando do mundo online, mas, de alguma forma, essas questões sempre fizeram parte da nossa vida social. A diferença é que internet potencializou tudo. Você tenta ser a melhor versão de si mesmo a cada dia. Cria automaticamente (e sem perceber) um filtro para cada situação da vida: o que vai dizer quando estiver na mesa de jantar na casa da sogra, como vai agir quando estiver perto daquele cara por quem você sempre foi apaixonada ou no primeiro dia do novo emprego, o que vai dizer para aquela sua amiga que está passando por um momento difícil, etc.
Somos quem escolhemos ser e, na internet, a lógica basicamente é a mesma. Nossa personalidade online tem a ver com a fase que estamos vivendo e compartilhá-la é o jeito que encontramos de lidar com as situações. Uma selfie pode passar a mensagem de que você está se sentindo linda naquele dia ou de que você está insegura e precisa da aprovação dos outros. A frase de uma música pode significar uma indireta pra alguém ou o fato de você simplesmente não conseguir tirar aquele verso da cabeça. A foto de um vestido novo pode passar a mensagem de que você ama usar marcas caras ou de que você trabalhou pra caramba e sentiu vontade de mostrar para o mundo sua mais nova aquisição. Às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo. Percebe como tudo é uma questão de ponto de vista e como é besteira nossa colocar tanta importância assim no feed de uma rede social?
Escrevi tudo isso pra lembrar que a internet não deveria nos definir ou limitar tanto assim. O ser humano é muito mais complexo do que uma porção de fotos e legendas. Particularmente, acredito que o problema não está em querer mostrar coisas boas ou apenas momentos felizes, mas sim em quem é ingênuo o suficiente para acreditar que a vida de alguém é absolutamente perfeita o tempo todo. Por fim, deixo a pergunta: você coloca uma foto da qual não gosta num quadro e a pendura na parede da sala?