Já aviso: não somos como os casais dos contos de fadas. Sabe a Branca de Neve, toda calminha? Não sou eu. Nós discutimos, mesmo. Quando você me estressa, eu falo tudo que tenho vontade. Quando você se irrita, também diz tudo que sente, direto, na minha cara. Sem rodeios, sem deixar o tempo passar num silêncio profundo, sem guardar mágoas ou ressentimentos. Sem essa de dormir com raiva! Encrencou? Resolve.
Aos olhos de quem vê de fora, parece até que estamos discutindo por besteira. Mas não é isso, não. Ora, o problema não é a última bolacha do pacote que você roubou, até parece. No nosso caso, é só o gatilho para um constante acerto de ponteiros, que acontece numa frequência maior do que a dos outros casais. Aliás, quem disse que eles não fazem o mesmo? A gente só não vê!
Seria um pouco chato se concordássemos em tudo. Se sempre que eu te mostrasse algo novo você tivesse exatamente a mesma opinião que eu tive, as coisas certamente não caminhariam para um lugar melhor do que aquele onde estamos hoje. Não agregaria, não me daria novas ideias. Ficaríamos no zero a zero. É, ainda bem que você (sempre) discorda!
Quando te conheci, comemorei o fato de que gostávamos das mesmas bandas. Pois bem: com o passar do tempo, fomos descobrindo que nem tudo é rock: meu coração também tem um espaço para o pop, para a MPB, e, por que não? Até para o samba. Mas, no som do carro, só cabe um pendrive por vez, né? Dá-lhe discussão pra decidir a trilha sonora! Depois de muito blá blá blá, pronto, a gente para de brigar e se entende de novo. E não é que você acabou se amarrando no álbum novo daquele grupo pop chiclete?
Você costuma dizer que eu sempre quero ser o lado que está certo. Ok, eu também digo isso a você. Na real? A gente sabe que não tem essa de certo ou errado. Estamos no mesmo time, e, bom, prometemos em nosso “para sempre” que iremos jogar nele – eternamente. No final, nunca muda: você olha para a minha cara e ficamos os dois com vontade de rir. E rimos. Por que levar tudo tão a sério? O que foi dito já foi assimilado. É claro, sem aquela parte desnecessária que, às vezes, escapa no calor do momento. Mas o que passou, passou. Combinado?
Sim, eu acho que os momentos ruins servem pra isso. A gente vai se acertando de pouquinho em pouquinho, aqui e ali. Assim, lá na frente, as peças se encaixarão corretamente. A gente não muda, mas a gente se entende. Aprendemos do que um gosta e o outro não e, assim, nos respeitamos. E o melhor de tudo? Crescemos muito com isso. Discutindo, tagarelando, segurando a risada e nos entendendo. Cada vez mais.