Ei, não precisa guardar tudo isso dentro de você. Ficar remoendo não vai te levar a lugar algum, sabe? Comece a falar, mesmo que as palavras saiam embaralhadas. No menor dos olhares, eu prometo que vou entender.
Olha, se preferir, você pode até pegar aquela música da qual tanto gosta e colocá-la para tocar, já que a letra diz tanto. Vai dar pra ter noção do que você está sentindo agora. Podemos ouvi-la juntos e, depois, tentar conversar um pouquinho. Eu sei que falam para não “mexer na ferida”, mas eu acredito que ela cicatriza muito mais rápido quando a gente cuida.
Ninguém precisa te dar chave alguma, você já a tem. Então abra as portas que foram fechadas daquele jeito tão firme e deixe tudo que te magoa sair. Não reprima, não esconda. Eu sei, tem coisas que a gente prefere guardar para nós mesmos pra um dia, quem sabe, esquecer, não é?
Quero que você saiba que pode falar tudo, contar cada detalhe e se despir de qualquer vergonha ou sentimento ruim. Pode se abrir por inteiro, externalizar memórias e deixar quem te ouve compartilhar isso tudo com você. Uma fardo grande pesa. Se a gente dividi-lo em pedacinhos, cada um pode levar um pouco. Com as palavras também é assim: quando se juntam em pensamentos ou recordações que doem, ficam aprisionadas em nossas cabeças e parecem pesar toneladas. Então deixe-as livres para que saiam por aí, leves como folhas.
Elas podem até voltar, eu bem sei. Mas vai ser diferente. É um processo, entende? Toda vez que você fala, elas saem e voltam um pouco mais tênues. E são frágeis, como são! Vão ficando mais leves, delicadas, suaves e vaporosas até que, finalmente, tornam-se imperceptíveis. E cadê aquela lembrança ruim que estava aqui? Eu nem me lembro mais!
Não pense que é besteira – e nem que o ato de falar, uma vez que não vai solucionar o problema, não vale a pena. Tente. É só deixar as palavras fluírem. Apenas desabafe.