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Foto: Andrea Mendes

O ano era 2010 e eu decidi comprar um óculos de coração. Nunca tinha feito nenhuma compra online, muito menos internacional, então este era um motivo e tanto para eu me empolgar o suficiente e contar para todo mundo que tinha clicado no buy now. Que orgulho! Coloquei no carrinho, digitei os números do cartão, comprei sozinha. Resultado? Todo mundo riu.

Veja, esse tipo de óculos não era tão comum como é hoje. A gente já via cantoras americanas usando modelos do tipo e os encontrava aqui no Depois dos Quinze e em outros blogs que incluíam versões do óculos em posts. Para a internet, era algo completamente ok. Mas, na vida real de uma cidade pequena, virava motivo de cochicho.

As meninas acharam graça: “Não acredito, só você mesmo pra comprar um óculos de coração!” umas diziam. “Você vai usar isso aí na rua? É adereço de festa de casamento!”. E eu pensava: qual é o problema? Não conseguia entender qual a dificuldade de as pessoas aceitarem que o gosto do outro pode ser diferente do seu. Pode ser exótico, totalmente novo, mas o que tem de errado nisso?

Na época, eu me deixava levar. No final, o óculos acabou não chegando (ainda inexperiente, não analisei se o vendedor era confiável e nem acompanhei o código de rastreio) e acabei desencanando de comprar outro. Deixei aquela vontade de usar um óculos de coração bem grande e vermelho lá dentro de mim. Guardadinha numa gaveta de tranqueiras interiores em que a gente joga nossos desejos reprimidos.

Anos depois, quando este tipo de modelo virou febre, acabei (finalmente) comprando o meu. E usei do jeito que quis. Tirei fotos, saí com ele na rua, usei do jeito que sempre imaginei. Me senti tão boba. Por que não tinha comprado antes? Não importa se é moda ou não, se você acha bonito, confie no seu instinto.

É, às vezes a gente se deixa levar pela opinião alheia. Quando somos adolescentes, isso acontece com uma frequência ainda maior. Juntou um grupinho, então? Piorou. Mas, sabe, na hora não dá pra enxergar o que está atrás de tudo aquilo: uma sombra de preconceito, outra de má vontade, mais uma de falta de compreensão e tantas de maldade pura e gratuita que algumas pessoas fazem questão de colocar para fora. Mas olha: não são monstros, são só pessoas. Você e a sua vontade são muito maiores do que todos eles. E essas situações vão se repetir, acredite.

Aconteceu de novo esses dias. Estava me arrumando com uma amiga e, assim que coloquei a minha gargantilha chocker, ela disse: “Não acredito! Você vai mesmo sair com isso aí?” Nem preciso dizer que já estou calejada, né? Então, respondendo a pergunta dela: sim, eu vou! Vou sair com a tattoo chocker, com um óculos de coração e com o que mais me der vontade.

Porque eu uso o que quiser usar.