Ao contrário da maioria dos meus amigos, quando fiz 18 anos, não corri para a autoescola. Na verdade, eu nunca pensei muito no assunto e não tinha aquela vontade louca de pegar o carro e sair por aí, sentindo a liberdade de poder ir para onde eu quisesse, sozinha, sem ter que caminhar ou pedalar. É claro que sempre quis minha liberdade e fiquei ansiosa pela maioridade. Mas não por causa da possibilidade de dirigir.
O tempo foi passando e eu, sem pressa alguma, continuei sendo a carona. Até que percebi. O que eu sentia não era indiferença. Era medo. É claro que eu sabia que o instrutor teria a maior paciência do mundo, que eu aprenderia direitinho e poderia conduzir um carro com calma, mas, sabe, a responsabilidade é grande. Muito grande! Não é só a sua vida que está em jogo, mas a de todos que estão em volta enquanto você segura o volante. Se naqueles simuladores de playground eu já era um terror, imagina num carro real?
Completei 19 e depois 20 anos sem nem pensar no assunto. Me virava para ir onde tinha que ir e contei com a sorte na maior parte das vezes. Acabou dando tudo certo. Até que a ansiedade bateu na porta e percebi que era melhor começar logo de uma vez. Conversando com outras pessoas, todas diziam que, quanto mais eu deixasse o tempo passar, mais difícil seria para tirar esse medo de dentro de mim. Falaram que ele cresceria. E não é que cresceu mesmo?
Foi então que resolvi acabar com tudo isso de uma vez. Mas como fazer o receio ir embora? A parte ruim é que não existe uma receita pré-definida. A parte boa é que, bom, eu consegui diminuir drasticamente o meu medo. Como? Pensando em coisas que, antes, eu não parava nem para raciocinar…
Primeiro, lembrei de todo mundo que já dirige. Conheço mil motoristas da família que mandam muito bem, mas também sei de casos e mais casos de pessoas que, quando estou no banco ao lado, me fazem levar vários sustinhos durante o trajeto. A minha mãe é uma dessas: não é lá muito boa na direção. Mas não é que ela vai e encara? E mesmo ouvindo que não é das melhores, ela se sente uma super motorista! Poxa vida, se ela consegue, eu também consigo.
Depois, pensei: é mais um aprendizado. A gente já aprendeu a andar, ler, escrever, tomar decisões extremas (como a da nossa faculdade ou carreira!), pagar contas e muitas outras coisas. Esta é só mais uma delas!
Por último, eu teria que lidar com um outro obstáculo, que é a minha ansiedade. Eu sei que até começarem as aulas práticas, existem outros exames a serem feitos. Mas eu sofria por antecipação, pensando lá na frente, na primeira aula prática, na última, na prova final e na minha reação com o fiscal ao meu lado. É certeza que vou fazer burrada.
Quer saber? Não deixei ser assim dessa vez. Quantas pessoas já passaram por isso? Quantas ainda vão passar? Não vou morrer se for reprovada. Se der tudo errado, não há problema algum em tentar de novo. E quando admiti isso para mim mesma, a confiança finalmente surgiu. Ufa! O medo foi embora.
Estou dando entrada na minha habilitação. Se eu posso, você pode. Coragem! Entre no ritmo. Perca o medo. Arrique. Vá. Acelere.