você está lendo Um trio (quase) inseparável

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Porque amigas de infância nunca serão totais desconhecidas

Dia desses uma amiga me marcou em uma publicação no facebook. Não uma amiga qualquer. A primeira que tive na vida. Como já não converso tanto assim com ela, no começo, achei que era só mais uma foto bem antiga escaneada com alguma legenda clichê. Sabe? De mil novecentos e noventa e alguma coisa. Época em que eu usava óculos da turma da Mônica e ia de maria chiquinha para aula. Ao abrir o link, para minha surpresa, percebi que era um texto. Três ou quatro parágrafos que falavam sobre os melhores momentos que passamos juntas. Eu, ela e uma outra amiga. Fomos um trio inseparável por muitos anos. Éramos bem diferentes, mas de alguma forma, uma conhecia e completava a outra. Nunca fomos populares. Bom, pensando bem, talvez só quando nossa merenda era gostosa.

– Oi Bruna! Você pode me dar um biscoito? nhmmmm

Não vou mentir. Odiava fazer parte de um trio de amigas quando o trabalho era em dupla. Lembro de ter que pedir ajuda da professora para encontrar alguém. Geralmente eu acabava ficando com quem faltava no dia. Também não gostava quando elas inventavam de fazer mistério da paixãozinha do momento. Não sei se ainda é assim, mas naquela época, cada garota da sala tinha obrigatoriamente que ter um amor secreto. Um motivo para escrever no diário todos os dias. Pauta para os intervalos.

– Você está gostando de quem?

Lembro que me perguntaram isso minutos antes do primeiro sinal tocar. Justo no dia em que eu tinha levado minha boneca preferida na bolsa para exibir dentro de sala. Sem saber o que dizer, olhei para o lado e decidi que fulano (prefiro preservar as identidades, vai que ele virou um cara extremamente charmoso?) seria o meu príncipe encantado. Acho que depois de tanto falar sobre ele, acabei gostando de verdade. Por algumas séries. Mas a história não deu em nada, porque vocês sabem muito bem, garotos na pré-adolescência só pensam em fazer gracinha para a sala inteira cair na risada e a professora dar uma bronca.

– Quando é que nós vamos ser como aquelas garotas?

Por algum motivo nós éramos obcecadas pelas meninas do ensino médio. Elas eram mais velhas, já tinham peitos (estou esperando o meu crescer até hoje), passavam maquiagem de manhã e podiam namorar de verdade. Hoje sei que tudo aquilo não era bem inveja do que jurávamos ser “a vida perfeita”. Era só ansiedade. Acreditávamos que com o tempo, o mundo começaria a conspirar a nosso favor. Como nos filmes. Queríamos papéis de verdade. Nada de figuração. Pois aconteceu. O tempo passou. O ensino médio se foi em um piscar de olhos e nos tornamos responsáveis por muitas coisas. Fizemos escolhas e no final das contas, cada uma acabou seguindo um caminho diferente.

Amizades como essas, independente dos erros que cada uma comete no meio do caminho, simplesmente não acabam. Sim, graças a distância, os encontros vão se tornar bem raros. Graças a falta de convivência, os assuntos vão acabar um pouco mais cedo. Só que esse não é o fim da linha. Desde que, claro, uma continue desejando sinceramente que a outra seja muito feliz. Porque amigas de infância vão sempre ter uma coisa em comum: as melhores lembranças do mundo. Isso, nem uma faculdade em outro estado ou um namorado ciumento pode mudar.

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