Tem dias que eu queria ainda não ter crescido. Dias, como hoje, que a ingenuidade de acreditar que o mundo acaba logo ali depois da esquina me fez falta. Queria, mesmo que por um breve instante, sentir novamente o gosto de ser café-com-leite. Poder ter medo de ir sozinha na cozinha a noite ou de tirar a casquinha do machucado antes da hora. Queria voltar a ter certeza de que independente do que acontecesse, alguém viria me salvar.
Quer saber? O mundo dos adultos é meio solitário. Você tem amigos, sua família continua por perto, seu namorado deixa seus dias mais alegres, mas no final das contas a única pessoa que realmente estará ao seu lado para sempre é você e tudo aquilo que acredita. Na segunda ou terceira vez a maioria das coisas perde um pouco a graça. Então você tem que continuar tentando encontrar algo que te faça feliz.
Crescer é quase como criar camadas. Inventar versões de nós mesmos para que acreditem que estamos prontos, quando na verdade na maior parte do tempo não fazemos a menor ideia do que está acontecendo. É assim pra todo mundo: o rico, o pobre, o triste, o feliz, o tímido ou o popular. A realidade lá fora é assustadora e não importa quem é ou de onde veio, aos poucos os outros vão te transformar. Mudar não é ruim. É difícil. Ter opções não é ruim. É mais complicado.
Sei que a vida não espera e uma hora ou outra todo mundo tem que atravessar a rua sozinho, mas o que ninguém diz é que do outro lado, de mãos dadas com os nossos maiores sonhos, estão todas as responsabilidades. É ótimo se juntar a eles, mas uma vez que você decide ir, não há mais como voltar atrás. Não porque não vão te aceitar, mas porque simplesmente você vai sentir que não pertence mais àquele lugar.