Eu vejo cores em você. Cores lindas. Vejo cores na menina brincando aí do seu lado. E na mãe dela, que também está por perto. E depois na mulher apressada que passa por nós. E então na senhora obstinada que cruza a rua.
É bom que tenhamos um dia que nos celebre. Mas precisamos nos festejar internamente, a cada hora de cada dia, e não deixar que pensamentos de inferioridade contaminem o nosso cotidiano.
Você pode. Você é. Você faz. Você consegue.
Não gosto das imagens e mensagens que chegaram no meu WhatsApp hoje. Entendo que elas não são para mim, e sim para a minha mãe, minhas tias, minhas avós. Isso me incomoda ainda mais. “Mulher é como sal, sua presença nunca é lembrada, mas sua ausência faz as coisas ficarem sem sabor”, “Parabéns, mulheres do grupo. Agora bora esquentar a barriga no fogão, kkkk”, “Eu sou mãe, mulher, filha, cozinheira, empregada doméstica, professora, garçonete, babá…”
Li tudo isso hoje. E a vontade é de gritar: desencanem dos rótulos. Da desigualdade. Do conformismo com os “papéis” designados às mulheres.
É por isso, garota, que, como sua amiga e sua irmã, eu peço: seja a mulher que você quiser. Não deixe o machismo passar, nunca, mesmo que ele apareça de relance. Aponte, indique, mostre pro mundo que não é assim.
Dia desses, estava com amigos em uma lanchonete. Estávamos sentados em fileira: menino, menino, menino, eu, meu namorado. Um conhecido chega e vai cumprimentar as pessoas. Oi pro primeiro cara. Pro segundo. Pro terceiro. Daí ele me pula – nem pousa o olhar em mim – passa pro meu namorado e só depois olha pra mim e cumprimenta. Ele não fez por mal, não fez de propósito. Mas primeiro foi falar com o “meu homem”, pra só depois falar comigo. Que bizarro. Achei meio surreal e até engraçado – olha como o machismo está em todo canto! -, comentei com o meu namorado e só.
No último domingo, estávamos no mesmo lugar. Na mesa, quatro caras, eu e uma amiga. Chegam dois meninos e, juro, passam de homem em homem dando oi. E fim. Como se, ao falar com eles, estivessem falando com a gente por tabela. De novo, sem perceber que tinham feito isso. Não deu. Nem pensei e soltei um: “vocês não vão MESMO cumprimentar as mulheres da mesa?” Aí fica aquele climão, “exagero”, “coisa chata”, sabe como é, né?
Não deixo mais passar, decidi. Aqui, não. Ou você me trata com igualdade, ou me trata com igualdade, não tem outra opção!
Olha, o que te peço hoje é que você use o seu poder para ajudar não só a si mesma: lute por quem não pode lutar. Tem mulheres que não têm tempo, força de vontade, coragem ou mesmo noção da diferença que o feminismo fez, faz e fará por elas. Batalhe por nós, por todas.
Não aceite ser menor. Nunca. Você tem os mesmos direitos. Sempre.
Você é maravilhosa. Iluminada. Linda. Uma garota inteligente, forte e cheia de poder. Faça o que quiser, seja quem quiser. Por você e por todas.