Você me transformou. Cada um dos nossos anos de parceria fez de mim o que sou hoje. É com você que estou falando, amiga.
Papo barato, alguns vão dizer. Não é. Sim, entendo que todas as pessoas que passam por nós transformam algo e causam um efeito. Concordo – e muito. Mas com você foi diferente.
Meu jeito de ver o mundo. Meu cabelo e minhas roupas. Minha forma de falar, os lugares que frequento e frequentei, as risadas que dou e dei, os abraços que recebo e recebi. Tudo seria diferente se, por uma rebeldia do destino, a gente não tivesse decidido caminhar uma ao lado da outra por vários dias de nossas vidas. Carne e osso, grude, chiclete, inseparáveis.
É engraçado, estranho e triste perceber o quão longe você está agora. Distância física e emocional, mesmo. Minha cabeça teima em entender: como assim? É ela quem dá os primeiros conselhos e palpites, quem sabe do drama antes de todo mundo, quem ouve a boa notícia, quem dá a gargalhada instantânea. Pois bem, não é mais. E não teve briga horrível. Não teve traição. Não teve loucura. Que coisa.
E quer saber? Este não foi o primeiro até logo que dei na vida. Já passei exatamente por isso um tempo atrás. Mas eu era mais nova, acho que entendi melhor – a vida muda, os caminhos destoam, a internet ainda não era tão boa. Sei lá. Sentia que havia explicação. Mas agora não tem mais.
É assim. Pessoas vêm e vão. Cravam seu nome com força na pedra e depois seguem o seu rumo.
Fui falar sobre isso com conhecidas que conviveram com a gente. Engraçado: todas elas se identificaram. É como se cada um de nós precisasse passar por isso pelo menos uma vez, por essa estranheza que é encontrar mais uma peça de seu enorme quebra-cabeças e, depois, voltar a perdê-la.
Sempre paro para pensar em como eu seria sem você. Penso sobre aquele corte de cabelo, a tatuagem que escolhemos juntas, a viagem de férias que decidimos fazer do nada, as horas e horas (e mais horas) de conversas intermináveis, os milhares de jantares, as lágrimas e todos os sorrisos.
É uma coisa muito maluca entender que eu seria alguém completamente diferente se aquela pessoa não tivesse entrado na minha vida. Como pode? Né? E como pode toda essa referência e influência viajar assim, deste jeito, para tão longe?
O problema é que, a cada conversa rasa, a cada “oi, tudo bem? Tudo, e aí? Também. Tchau”, os suspiros ficam mais pesados. Difícil.
Eu continuo te amando e, mais do que isso, amando o que fomos. Você é memória e amor. Ao mesmo tempo, é presente e carinho. Ao mesmo tempo, é futuro e esperança.
Eu desejo que você seja feliz, que continue linda, que se realize, que ame e que viva, sempre viva. E que os nossos caminhos nos levem, mais uma vez, a uma mesma estrada. Quem sabe?