Me disseram que a gente tem que entender que as pessoas são como são. Assim, imutáveis em sua essência. Que se, por toda uma vida, alguém foi de determinado jeito, simplesmente está fadado a continuar mantendo os mesmos velhos pensamentos e a mesma forma de agir de sempre.
Que bom que eu não acreditei nisso.
Tá, de certa forma, não completamente. Porque não posso construir um mundo utópico na minha cabeça: sei diferenciar as coisas. Entendo que alguns costumes e jeitos mais ferrenhos eu não conseguiria jamais contornar, mesmo tendo uma vã esperança de mudança e uma dose grande de boas intenções.
Reconheço que não dá para tratar tudo como um grande sonho e pensar que nós, sozinhos, conseguiremos mudar cada coisinha que está errada. Mas, de certa forma, o coração sente quando é possível seguir e continuar insistindo. Ô se sente.
E foi por isso que mantive, dentro de mim, com um certo brilho nos olhos, aquela confiança de que os motivos que nos faziam adiar diálogos ou subir o tom de voz desapareceriam hora ou outra. Em determinados momentos, esta perseverança parecia grande. Mas, em outros, era mínima perto de todo o contexto estranho. Por isso, eu teria que partir. Teria que te deixar.
A sua falta de compreensão em alguns pontos que, para mim, eram tão cruciais. A sua teimosia em não entender o meu lado da moeda – mesmo quando eu tentava explicá-lo tão carinhosamente. A sua falta de jeito para lidar com algumas situações… Ah, estes pequenos defeitos, como me fizeram sofrer! Certo, sei muito bem que também tenho vários deles, mas é que os seus ficaram incrustados em uma personalidade que eu sempre amei e impediram a passagem de todo o resto, que era muito mais incrível.
Para mim, havia um embate em jogo. Na balança, neste caso, o que estava sendo medido era você contra a sua própria índole. Aquela versão que eu conhecia do meu garoto, tão linda – e pela qual eu tinha me apaixonado -, e a outra parte, que insistia em escorregar nos mesmos erros que nos causavam tantas discussões sem sentido (e que só nos tomavam um tempo que poderia ser gasto de outra forma).
Mas quer saber? Eu não iria desistir de você. Permaneci. Lutamos. Fiquei.
E aí veio o tempo, não sozinho, mas com doses e mais doses de compreensão mútua – doses estas que tomamos nós dois, juntos. A intimidade trouxe uma ternura necessária, que deixou aqueles defeitos com vergonha de aparecer. No começo, ficaram guardados e, depois, convencidos de que não eram bem-vindos, parece que até foram embora.
Tem gente que diz que você amadureceu. Às vezes te olho e penso que não foi nada disso, que continua ali o mesmo sorriso infantil que tanto amo. Mas, nas atitudes, principalmente aquelas infrutíferas que não tornaram a aparecer, é fato: você mudou.