A gente não pode ser assim, tão sério.
É sério! Não dá para acreditar que isso tudo seja deste jeito…
Vamos falar dessa nossa mania?
Sim, nossa. É minha e também é sua. Você sabe bem do que estou falando. A gente passa por maus bocados, é verdade, mas nem tudo se limita a eles. Os momentos bons também existem, porém, quando a onda ruim te pega, você os abandona de vez, não é? Deixa-os de lado e se esquece de tudo de bom que já viveu.
Neste momento, você trata a situação com a delicadeza e a seriedade que ela pede. E isso é muito necessário mesmo, até para podermos manter o foco e nos prepararmos para lidar com aquilo. É assim que tem que ser, é natural e é a forma como restabelecemos as forças e conseguimos enfrentar o mundo.
Mas o problema maior fica por conta do momento seguinte.
O instante em que aquilo se resolve, mas você resiste a colocar o sorriso de volta no rosto. Vai levando tudo no mesmo mood dos últimos fatos que aconteceram e, quando se dá conta, já passou muito tempo e você não vê a mesma graça que via nas coisas. Está no automático. Sem apreciar a delícia que é viver junto de sua própria companhia.
Vamos entender? Deve ter algum motivo. Lá no fundo, tímido, mas eu sei que o comportamento não brotou sozinho. Talvez seja medo de que aconteça de novo, ressentimento por aquilo que você viveu ou até uma certa blindagem do futuro. Eu sei que você pensa que, se for pega desprevenida, aquela felicidade arrebatadora pode ser assaltada e te roubar todos os seus bens mais valiosos. Mais valiosos do que ela mesma? Veja, você está vendo as coisas por um ângulo distorcido.
Ela pode se perder, o que é ainda pior.
Por isso, não dá para evitar deixá-la aparecer. Não dá para evitar a graça. Não dá para evitar a vida.
Lembra de quando você ria de qualquer bobagem? Qualquer mínimo acontecimento já poderia virar um assunto empolgado em suas conversas – ou ideias mirabolantes, que você guardava, ansiosa, pronta para dividir com seus amigos.
Lembra de quando você ria dos seus próprios defeitos? Seus esquecimentos não eram a impaciência e a lamentação, somente alguns comentários rotineiros e alguma pressa (ritmada por aquela música que não saía da sua cabeça). Suas paranoias viravam piadas e você se divertia ao pensar nas conclusões malucas que eram traçadas em sua mente.
Lembra de quando você ria das voltas que o destino traçava? Você apreciava o incerto e o desconhecido, sempre com aquele otimismo e confiança típicas de alguém que sabe encontrar suco até na laranja mais seca. Agora você só quer que o tempo pare com toda essa loucura e passe sem aquele turbilhão de emoções que, antes, eram tão empolgantes…
Você pode não se lembrar, mas eu me lembro. Você ria.
Você não se levava tão a sério.
E não era tudo tão bom? As coisas não pareciam muito mais bonitas vistas daquela sua antiga forma de olhar? Porque era você que comandava e fazia tudo acontecer. Porque mesmo de uma forma inconsciente, você tinha certeza de que o segredo era a sua leveza.
E assim como um aviãozinho de papel, você voava para todos os lados, seguindo os ventos e as orientações que te davam na telha. Livre. Solta. Feliz e achando graça.
Então eu só tenho um pedido a fazer: por favor, volte a ser assim. Quero ver este sorriso surgir por causa do comercial de refrigerante na televisão, pelo ventilador quebrado, pelo cabelo embaraçado, pelo instinto ressurgido, pelo tropeço acidental, pelo amor correspondido, pela mensagem inesperada, por seu reflexo no espelho, pela mania destrambelhada, pela vontade despertada, pelo sim ou pelo não.
Por tudo. Por você.