Eu me pego lembrando dos momentos bons e me dá aquele aperto na garganta. Parece que a cena está se repetindo aqui de novo, agora, do meu lado, como se tivesse acabado de acontecer. Mas já faz algum tempo…
Eu pensei que nunca iria gostar de alguém dessa forma. Só que as coisas vão acontecendo e, quando você vê, tudo o que há é amor. Aquela pessoa de quem você nunca imaginou gostar – bem diferente da que habitava seus sonhos e planos de romance – vira o rosto que você queria ver todos os dias ao acordar. Se transforma nas ligações telefônicas intermináveis à noitinha, nos planos de viagens incríveis, com mil roteiros a se desbravar, nas mensagens bobas durante a tarde e, finalmente, na concretização do “nós dois juntos”. A melhor rotina do mundo.
Como é ruim poder lembrar de tudo. Porque, junto à lembrança, vem aquela pontada de certeza de que isso tudo não vai acontecer novamente. Pode até ser em outra ocasião, mas com outra pessoa.
E não pense que me esqueci da parte ruim. Ela também vem à tona na minha mente, mas, olha que coisa, simplesmente não parece mais tão ruim assim. Acho que a saudade faz a gente suavizar as cicatrizes. Porque aquilo que parecia um enrosco tremendo, agora, tem a cara de um simples nó dentro da minha própria mente – e, de repente, está tudo bem.
Mas não está.
Porque o que foi dito, ficou. E a minha surpresa vem no efeito que ele causou no meu depois.
Tudo mudou por conta das simples palavras que foram jogadas de um lado ao outro, como crianças brincando de bola em cima de um muro. Sem se darem conta do que a singela brincadeira poderia causar ou, ainda pior, de que elas corriam o risco cair dali.
Caímos os dois.
E foi sem aviso, de cara, num mundo em que eu e você não existimos mais. Nossas piadas, nossas manias. Não há a sua letra inicial junto com a minha e, disso tudo, só restaram sonhos e planos que, agora, representam tempo perdido.
E eu percebo que, da nossa queda, parece que só eu me machuquei. É estranho olhar para o lado e te ver normal, arrumando as roupas e com as mãos limpas, sem nenhum arranhãozinho, enquanto me levanto aos poucos, toda bagunçada e com os joelho esfolados.
O que me consola é saber que, se você vivia em meu coração, nesta queda ele se quebrou. Isso quer dizer que, mesmo que seja aos pouquinhos, você sairá dele, como a água que foge do copo virado.
Hoje, ainda tenho saudade. Mas é porque a sua lembrança continua escorrendo aqui dentro, relutando para ir embora de vez. Mas a gravidade está aí e o coração ainda está virado: daqui a pouco tudo ficará vazio de novo, exatamente do jeito que era antes de você chegar.