Eu não te subestimei. Só não tinha certeza de como você era por dentro. Na verdade, eu ainda não havia parado para pensar nisso.
Quando a gente desconhece a realidade, a cabeça faz questão de criar algumas suposições por conta própria. Sozinha, a minha achou que o nosso caminho se dividiria em breve. Que você seria apenas mais um na multidão, que nossos olhos não se encontrariam novamente e que os instantes em que nos conhecemos eram passageiros – não haveriam de ter grande importância.
Mas tem coisas que a gente não explica: parece que, se é para ser, apenas é.
Não é novidade para ninguém que foi você quem me encontrou e, nas primeiras vezes em que a gente se viu, nada aconteceu como nos filmes. Eu, distraída. Você, bem… não me lembro. Só sei que não teve magia, passarinhos cantando, unicórnios em volta ou toda uma atmosfera intensa de amor: eramos só nós dois, como duas pessoas extremamente comuns, se esbarrando numa rua qualquer da vida.
As palavras que trocamos nessa época, você bem sabe, não foram lá muito profundas. E o seu jeito tímido me dizia que era só aquilo, mesmo. Que você era tão somente o que eu enxergava ali, naquele momento, e que algo próximo de amizade jamais passaria a ser amor.
Mas aí veio o principal elemento na nossa história, que foi o tempo, e que agiu intensamente sobre nós. Assim como o Sol, quente, rei de todos os astros, nos irradiando luz e calor, os momentos foram decisivos e o encanto começou a aparecer do nada, como o coelhinho que sai da cartola do mágico. Aos poucos, sim, mas de forma inexplicável.
Porque eu não sabia expressar o que sentia: estava, cada vez mais, mergulhada em uma mistura maluca. Não havia previsto, fui pega desprevenida. Eu não sabia que o meu grande amor estava ali.
E, quando entendi, meu interior já sorria sempre que pressentia a sua chegada.
Que estranho, não?
Afinal, era só você…
Mas foi só você.
Aquele que eu nunca pensei que teria a chave certa abriu o meu coração para fazer dele o seu lar. Entrou, com toda a cautela, e se instalou no lado esquerdo do peito, arrancando suspiros e canções apaixonadas. Como é que você fez isso?
Nem eu sei! Eu já havia sonhado com inúmeros romances e designado alguns nomes que, na minha cabeça, eram candidatos perfeitos ao posto de “pessoa ideal para mim”. A outra metade da minha laranja.
Mas, pelo visto, não é para tudo nesta vida que nós podemos (e precisamos) fazer planos. O acaso surpreende e o amor mais lindo de todos pode surgir daquela flor que você jamais regou. Estamos distraídos quando vem alguém assim como você, que se prova uma grande surpresa.