Desta vez, ele não se perdeu por aí com a certeza de que uma hora irá voltar. Também não está escondido em alguma parte da casa, pronto para me pegar desprevenida em num canto qualquer – enquanto eu estiver fazendo qualquer coisa que não o inclua.
Quebra o meu coração pensar que mais nada que eu faça irá incluí-lo daqui para frente.
Engraçado… Antes, minhas tarefas nem sempre o tinham como foco, mas, de uma forma ou outra, ele estava em um pouquinho de tudo o que eu fazia.
Um miado no meio da noite silenciosa, uma patinha ao lado do meu braço a qualquer momento, um ronronar preguiçoso no primeiro raio de sol pela manhã e um bigodinho arisco se enfiando ao meu lado no momento de maior pressa.
Eu tinha uma companhia, um amigo, um conforto e, enfim, um pequeno coração batendo ao meu lado, emanando boas energias e mandando embora tudo o que era ruim depois de um dia difícil, em um simples passar de mãos ou em um abraço peludo e quentinho.
Uma pequena criatura que não falava, dava conselhos ou me respondia, mas que estava sempre ali para mim e inexplicavelmente conseguia ser tudo o que eu precisava. Havia uma vida que não era a minha própria sobre minha total responsabilidade e cuidado – isso me ensinou muito ao longo do nosso percurso.
Não era só um animalzinho. Eu depositei uma grande porção de amor neste ser que apareceu na minha vida, como se soubesse desde o começo que ele teria um papel muito importante para desempenhar por aqui.
E, de fato, foi o que aconteceu. Por isso que é tão difícil pensar que ele não estará mais comigo a partir de agora. A tristeza volta instantaneamente. Basta olhar para qualquer lugar e lembrar de quando ele estava por perto. A saudade se transforma em lembranças e as palavras saem para aliviar o pesar.
Logo, preciso externalizar tudo, agora. Porque, de alguma forma, já o perdi.
Seu único defeito estava em sua própria existência, tão curta.
Seria perfeito e muito bom se ela pudesse durar tanto quanto a minha, mas não sei, quem é que sabe? Talvez as coisas tenham que ser assim para aprendermos a dividir o nosso coração com outras tantas criaturinhas.
Afinal, quantos animais cabem em uma vida humana? Se cada um que cruzar o meu caminho for assim, tão perfeito quanto ele, eu seria capaz de viver eternamente, só para dar lugar a todos em meu coração.
O espaço dele? Está marcado e é permanente.
Um sentimento gigantesco guardadinho em um ser de quatro patas. Patinhas que trarão recordações e abrirão sorrisos sem razão, sempre que forem lembradas. Tenho certeza absoluta de que isso irá acontecer por toda a minha vida.