Você foi para a esquerda e cedeu um lugar pra eu me sentar.
Engraçado, eu senti que o seu coração estava me recebendo também, meio sorrindo, de portas abertas, para que eu fizesse dele o meu lar. O meu espacinho estava cravado: tanto nele quanto ao seu lado.
Você sabe o tanto que eu esperei por este momento. Finalmente a gente teria aquele tempinho nosso, para fechar a janela barulhenta lá da sala e deitar pra conversar sobre as nossas bobagens de sempre, juntos, embaixo de algum cobertor reconfortante. Nos abraçando até a temperatura subir.
O chocolate quente já estava servido, a pipoca tinha pulado da panela, a televisão havia sido ligada e a sua presença, ali, me provava que eu não precisaria de mais nada. Tem horas que a gente problematiza demais as coisas, né? Mas basta um tempo frio para mostrar o quanto fica fácil ser feliz.
O inverno tem vários pontos negativos, mas um fato positivo é este.
A gente se enrola um no outro e viramos praticamente uma coisa só: é impossível também não dar risada. Se um pedacinho de pele escapa do cobertor, já parece que entramos em uma geladeira! O casal perfeito dos pinguins fajutos, que querem mais é que os termômetros se elevem. E voltamos a nos procurar e nos aproximar, sentindo ainda mais a necessidade da nossa companhia.
Procurando por mãos para segurar, pés para entrelaçar… e aí as bocas tentam se encontrar. Até a pontinha do nariz vê a necessidade de encostar na sua pele, quente. Formamos uma boa dupla até aqui, unidos desta forma, aproveitando o interior da sala em calma para perceber que o que importa mesmo é isso que temos aqui.
E nos damos conta do tanto que o mundo externo parece menor perto deste instante. E como são boas as pequenas sensações, ainda mais junto a quem se ama. E o amor, agora, quer explodir: o esquecemos ligado e o fogo já fez questão de aumentá-lo em proporções nunca antes vistas.
Tão bom que eu até me esqueço de tudo lá fora.
Aqui não neva, mas, se nevasse, tenha certeza de que eu esqueceria até da vida em branco pintada pelo céu, por mais bonita que fosse. Os problemas, as pendências, ansiedades e obrigações ficam da porta para lá, congelados em um tempo gélido, impiedoso, que não conhece a brasa boa que é o seu acalento.
Não, não conhece! E é justamente de momentos como este que irei me lembrar quando as coisas transformarem a vida em gelo. Eu tenho a você e, quando estamos juntos, tudo fica mais quentinho.