Tempo não é qualquer coisa. Pra mim, cada momento, por menor que seja, tem que valer a pena. É a areia da ampulheta de nossas vidas que vai indo embora, devagar, e não há o que fazer para impedir. É por esse motivo que tento aproveitar cada instante, saborear os segundos do jeito mais ligeiro possível, como faço com as cinquenta mastigadas obrigatórias de cada garfada. Não custa tentar.
Com você, não foi diferente.
Por isso, fiz questão de apostar todas as minhas fichas em nosso amor e joguei o valor mais alto – eu tinha certeza de que daria tudo certo. Eu estava ali, de corpo e alma, com todas as minha energias conspirando para que as coisas corressem bem. No começo, até fluíram. Foi só depois que vi: não dependia só de mim.
E eu que tinha medo de ver as horas irem embora dentro de uma torneira largada aberta, vi uma relação evoluir para um imenso mar de momentos que não iriam se recuperar.
Não pense que não relutei para admitir isso: tentei fechar os olhos, enxergar por outra perspectiva e realinhar as nossas mentes. Mas elas andavam separadas e o tempo continuava firme e justo, inabalável perante os meus retalhos e remendos.
Existiam bons momentos, é claro. Nem tudo é desperdício, principalmente quando um sentimento tão forte entra no meio. As coisas não deram errado de uma hora pra outra, o que aconteceu foi que percebi que as vivências não tão boas sempre se sobressaiam, e a culpa nem era minha. Existiam dois lados, mas o pior deles fazia questão de ganhar.
Gastávamos mais segundos discutindo do que nos abraçando.
Mais segundos brigados do que nos falando.
Mais segundos discordando do que conversando.
Foram tantos os gastos que, uma hora, a conta chegou.
Era inevitável: no fundo, a gente sabia que tudo isso não sairia de graça. O problema é que você quis que eu pagasse tudo sozinha. Como se eu que tivesse desencadeado cada um dos nossos problemas e precisasse dar um jeito neles para que as coisas continuassem bem.
Não dá para fazer um caderninho de memórias ruins e ir checando itens pra ver onde cada um errou. Minha honestidade me permite admitir que, embora eu me veja isenta de culpa em vários pontos, aquilo tudo era, afinal, um assunto de nós dois. Eu não colocaria tudo em minhas costas para tentar, mais uma vez, subir a difícil montanha.
Foi assim que mais uma tentativa de solução acabou virando a nossa despedida.
No lugar de seu abraço, a sinceridade me envolveu novamente. Vi que não dava mais para insistir em nosso trem descarrilhado, que tinha vagões felizes, mas também muitos que estavam lotados de minutos desperdiçados.
Era hora de encarar a realidade, por mais dura que ela fosse, e apenas admitir que, sim, foi tempo perdido.