Se o relógio fosse um ser humano, muito provavelmente seria um dos mais malucos.
Já parou para pensar no quanto a gente mexe com ele?
Algumas vezes, o apressamos. Queremos que os dias passem rápido para que aquele acontecimento superlegal aconteça ou para que um momento chato, que parece se arrastar como uma lesma, vá embora de vez.
A aula da matéria mais complicada. A sala de espera cheia de agonia. A aflição de desempenhar uma tarefa que você não gosta, conviver com gente estranha ou fazer todo e qualquer tipo de coisa que não te agrada. Damos aquele jeitinho de botar o tempo no meio, coitado, para suar correndo na esteira dos segundos, até que os perrengues tenham o seu fim.
Seria ótimo poder apenas fechar os olhos e esperar tudo passar, enquanto o tempo desempenha a sua função sozinho, mas, como não dá, damos a cara a tapa. Só que sempre olhando para baixo e conferindo a duração de tudo, só para garantir que haverá um ponto final.
Empurramos o ponteiro, checando se ele cumpriu a sua tarefa de dar mais uma volta em torno do relógio. Já acabou? Ótimo – e ufa, que alívio. Pois era assim mesmo que eu queria que fosse!
O problema é que, assim como todos os nossos desejos e vontades, surge uma contradição. Outras vezes, o que mais queremos é que o tempo passe devagar. E o desespero vem junto com a certeza de que ele continua a rodar: por favor, apenas pare.
Não queremos saber do momento seguinte, do minuto que sucede, do dia que ainda virá. Isto aqui e o agora são as razões da perfeição e não há motivos para que tudo passe. Então poderia muito bem rolar uma folguinha, uma xícara de chá, um break no expediente…
Mas não é possível. Mesmo que a gente tente, sabe? Nos arrastamos pelos segundos, estendendo tudo ao máximo para que a boa hora não vá embora. Tentamos impedir o fim, mesmo sabendo que o tempo é inabalável.
E continuamos, nos fazendo de espertos, como se soubéssemos lidar com nossas vontades de acelerar ou pausar os segundos, imaginando que nossa vida é um filme e, nossa vontade, o editor de vídeos. Na realidade, tudo o que fazemos é isso, apenas imaginar.
Porque o relógio continua sempre no mesmo passo, seja com ou sem nossa influência. A gente só tem mesmo é que aprender a parar de olhar para ele e se preocupar mais com a vida que está bem em frente aos nossos olhos.
Passando, sim, é claro.
Mas exatamente da forma que tem que ser.