Veja nossas fotos: a dupla imbatível, feliz e apaixonada, já foi embora. No lugar, ficou o vazio. Recorte-nos mentalmente e foque nos cenários, afinal, foi o que restou.
Aqueles trejeitos, planos, rotinas e hábitos que só nós entendemos não vão tirar mais sorrisos da boca de ninguém. Não adianta tentar construí-los e explicá-los para outra pessoa: só fazia sentido pra gente. Todas as nossas manias se perderão em um buraco fundo, onde é guardado aquilo que não resistiu.
Não haverá mais o “eu e você” que compartilhava cada degrau subido ao longo do tempo em que estivemos mais perto do topo. Agora consigo ver que foi ilusão imaginar que, lá em cima, encontraríamos um carregamento de paz. Para mim, isso iria se somar ao amor, tal como o amadurecimento. Ironia ver que foi justamente o contrário, não é? Chegamos e encontramos o fim.
Ali, cada um seguiu para um caminho, tocando a vida como se o tempo subindo juntos não tivesse de fato acontecido.
Você faz isso de uma forma tão fácil que eu não consigo deixar de pensar: como é que você consegue? Deve ter uma senhora habilidade envolvida – ou, pelo menos, um descuido seu, ignorando a realidade. Porque eu ainda não consegui criar poderes que transformem o passado em uma mancha, daquelas que a gente olha e não entende nada.
Foram muitos momentos juntos – é por isso que não consigo derrubar um copo d’água e ver a tinta se transformar em borrão.
Mas sempre que sinto a sua falta congelar cada pequeno pedacinho por aqui, como se, desavisada, tivesse saído num frio de graus negativos sem nenhum agasalho, há outro pensamento que simplesmente não sai da minha cabeça: é impossível que a minha ausência não te afete.
Você ainda sentirá saudade de tudo o que a gente passou. Do que eu fui pra você.
Agora, bem sei, é recente. Na sua cabeça, você vive em um mundo ilusório, em que finge que tudo já ficou bem e que não precisa mais de mim para completar o final das suas frases, que não clama por nossas conversas diárias, que não quer ver o meu sorriso bobo, que não precisa rir das minhas besteiras e que, enfim, não necessita mais do meu amor para sentir o mar de sentimentos que nos invadia quando estávamos juntos.
Você coloca as brigas e discussões em primeiro lugar, como se antes e após todas elas não existisse uma vida feliz. Colocou um disfarce em nossa relação.
Tentando se justificar, acabou mesmo jogando tudo para o alto. Deu tchau e seguiu.
E no nosso adeus, muito de mim ficou em você e muito de você ficou cravado em mim.
A nossa única diferença é que eu não me comporto como se não soubesse disso, ignorando um pedaço que precisa ser alimentado e tratado, até entender como farei o caminho de volta. Já você, leviano, deixa tudo sem cuidado – como se não estivesse ali. Mas está. Eu sei que sim.
E ainda preciso dizer? Uma hora, toda a lembrança gritará. E quando doer em você, tenho medo de que, em mim, tudo esteja completamente cicatrizado.
Você vai sentir a minha falta.