Começo este texto com uma sinceridade que só existe por aqui, pois reconheço que sou mesmo orgulhosa e jamais direi isso em voz alta: eu nem lembro porque nós brigamos.
Não que eu tenha me esquecido das diversas coisas ruins que aconteceram com a gente naquela época, das muitas coisas erradas que foram ditas entre nós e as várias situações embaraçosas em que nos metemos por nossa relutância em aceitar que podíamos voltar a ser quem éramos. Agora, se eu sei qual foi o estopim, o motivo real, o começo da sequência de desastres que fez a nossa amizade ruir? Não, disso eu não consigo me recordar.
Puxando pela memória, até visualizo algumas más recordações que me fizeram derrubar lágrimas. Dias que pareciam não ter fim e sentimentos difíceis – que me faziam ficar para baixo, enquanto você, do outro lado, talvez nem ao menos tenha passado por tudo o que passei por conta de nossas brigas…
Mas, sabe a chave mestra? Aquela que abriu uma porta de chateações? Não sei onde é que foi parar. Quer dizer, não entendo nem mesmo onde foi que a encontramos, afinal.
Mesmo assim, por todo o histórico que se seguiu depois disso, eu sei que não devia mais tocar no assunto. Devia enterrar as memórias tal como fizemos com nossa relação. Devia seguir em frente e esquecer que um dia tivemos uma rotina de maratona de séries, pequenas viagens, saídas loucas e aventuras. Não pense que me acorrentei a tudo isso… Eu continuei a minha vida.
O problema é que foi quase uma vida toda de lembranças. Os problemas marcam, mas não conseguem apagar o que veio antes.
É estranho e até me sinto meio boba por conta disso, mas a verdade é que o tempo foi passando e toda a parte boa começou a passar como num filme por minha mente. Não fui ridícula de rasgar fotos e, por isso, elas continuam aqui, embora guardadas. Com as recordações é quase a mesma coisa: a gente tenta afastar, mas sempre vivemos um momento próximo ou parecido que nos leva a recordar, bem lá no fundo, os sorrisos que demos juntas.
E são nessas breves horas que, mesmo que eu já tenha vivido muita coisa no futuro, não consigo deixar para lá um passado que, sim, foi muito divertido.
Por isso, onde quer que você esteja, queria dizer que, independente de tudo aquilo que passou, eu te perdoo e também peço perdão.
Já somos outras pessoas e temos outras vidas hoje em dia, completamente distintas do que eram antes e, por isso, aquilo tudo não faz muito sentido. Doeu, sim, mas fiz questão de guardar apenas a parte boa.
Nunca mais seremos amigas como antes e isso é uma certeza, mas não irei olhar para trás e ver trevas. Irei lembrar de você e ver todos aqueles sorrisos das tardes assistindo a filmes na sala e falando bobagens comendo pipoca e brigadeiro.
Irei reconhecer e agradecer.
Porque, sim, você foi uma parte fundamental da minha vida no tempo em que éramos amigas.