Eu não gosto da ideia de admitir pra alguém que, na verdade, tudo aquilo que construí em minha mente estava mais para realidade virtual, daquelas parecidas com jogos de computador. Mas se eu pensar sobre isso e admitir pra mim mesma, mesmo que relute, no momento seguinte vou reconhecer – em silêncio – que é verdade: eu vivi algo que só existiu aqui dentro de mim. Por fora, era mentira.
Em todas as telas vazias, te pintei como a melhor pessoa do mundo. Como se eu quisesse que todos te enxergassem da forma como eu te via: coloquei uns atributos a mais aqui e ali, inseri umas qualidades que não existiam e minimizei aqueles defeitos estratosféricos que, caso a realidade fosse levada em consideração, ocupariam um espaço imenso da tela. Eu não deixava isso acontecer.
Meu coração simplesmente falava mais alto e me dizia para deixar de lado aqueles pequenos detalhes.
Teu jeito nunca teve nada a ver com o meu e eu achava que poderia haver um significado oculto nisso. Onde uma beira começa e a outra termina, bem ali no espaço (um verdadeiro precipício!) entre o qual elas se separavam, fui preenchendo o vazio com acasos que não diziam nada. Comecei a tecer uma verdadeira teia de minúcias que, no fundo, serviam apenas para me deixar mais sossegada.
Me aquietei num mundo falso que construí em cima de tudo e todos. E não foi fácil fazer isso só para poder ficar com você.
Olhando bem agora, era uma verdadeira loucura. Mas quem disse que eu sempre enxerguei tudo desta forma? Longe disso! Disfarçava um lamento com um riso, a tosse de tédio virava dor de garganta, o grito da briga se transformava em piada, o descaso se tornava coincidência e todas as nossas diferenças – uau, que romântico! – não passavam de um lindo contraste entre a gente.
Até que finalmente vi que, em tudo isso, não havia beleza alguma.
Meu esforço era inútil porque, se a gente ama, tem que haver liberdade e apenas uma única obrigação: de as coisas terem, sempre, um pano de fundo belo. Ali, na nossa relação, nada era originalmente bonito. Tudo era plastificado e modificado por mim, que ficava horas e horas tentando arrumar e ver sentido nas coisas, como quem molda uma escultura de argila.
Me tornei a artista da falsificação.
Aos poucos, não sei se no cansaço de tudo isso ou num estalo que me deu, percebi que era em vão. Eu não estava amando, tampouco sendo amada.
Era apenas uma personagem – num faz de conta sem sentido que precisava, o mais rápido possível, encontrar o seu fim.