Eu estava escrevendo um texto quando, no meio dele, uma reflexão me fez lembrar de uma situação difícil que ficou lá atrás. Pensei em escrever sobre ela, mas me deu vergonha: não era algo tão grande assim. Depois, pensei em escrever de uma forma mais aberta, mas também resolvi deixar para lá. Fiquei com medo de parar no meio, de chorar um pouco, de me sentir ridícula por colocar os meus perrengues em palavras enquanto o mundo está aí, cheio de problemas maiores.
E então eu guardei tudo para mim.
Só que, por dentro, eu queria muito escrever. Queria compartilhar e ver se alguém já tinha passado por isso. Ou, sei lá, às vezes o que eu queria mesmo era apenas ler só alguns comentários me estimulando a deixar tudo para trás de uma vez por todas, a não ligar, a procurar a banalidade e o comum no meio disso.
E aí imaginei o texto sendo publicado e tudo vindo de encontro a mim. Este nosso país é tão grande, né? Com certeza respostas viriam. E foi nesse exercício imaginário, em que publiquei mentalmente algo que nem escrevi, que reparei: algumas experiências das quais a gente não fala são vividas por muitas outras pessoas também.
Estou falando das vivências que nos afetam, nos deixam pra baixo e marcam, mas não ganham textão, conselhos ou menção na tarde com as amigas, porque achamos que são pequenas demais pra merecer atenção alheia. Aquela briga de família que feriu, a postura indiferente de alguém que te afetou, a brincadeira da infância que te excluiu e todo um mundo de pequenezas que ferem e calam.
Só que sim, sempre tem alguém que nos entende. E é a empatia que nos salva destes buraquinhos do caminho, nos quais acabamos caindo sem querer.
Com um novo fôlego, mais coragem e um bocado de determinação, decidi escrever. E já estou fazendo o próximo texto, que será sobre o mesmo assunto. Mas, mesmo sem publicá-lo, já me sinto melhor, porque me dei conta de que, com toda a certeza, não estou sozinha. E este texto fica de aviso: lembre-se disso também, combinado? Nem sempre estamos perto, mas, ufa… nunca estaremos sozinhos nessa.