A minha tia morava em uma rua super movimentada. Ela vivia em um prédio em que, dos dois lados, havia barzinhos que tinham uma frequência bem legal de pessoas. Mais pra frente, tinha uma casa noturna e um restaurante. Por conta disso, quando eu estava lá e tudo ficava em silêncio, significava que a madrugada se fazia presente.
As vozes, os risos, os pratos e as músicas entravam pela janela e me faziam sentir como se precisasse estar lá. Ora, eu era jovem e deveria participar e aproveitar, certo? Era uma sensação estranha: como se eu tivesse que viver aquilo, mesmo que a TV e o sofá estivessem muito confortáveis por ali também. Era como se “viver”, afinal, fosse aquilo que o pessoal estava fazendo lá embaixo.
Não sei de onde tirei essa ideia, mas os locais barulhentos e movimentados me passavam essa impressão. Como se eu estivesse perdendo alguma coisa, deixando de aproveitar algo. E isso, com a pouca idade que eu tinha, sempre me passava a mesma mensagem: que eu não estava aproveitando a minha juventude.
Aqui cabe um parênteses: eu saía de vez em quando, claro. Não era a pessoa mais baladeira deste planeta, como você já deve ter imaginado, mas já tinha entrado em um bar antes. Era algo de fases: às vezes eu encontrava alguns amigos, às vezes não. Havia algum problema nisso? Mas na época em que tudo são dúvidas, é fácil encontrar problemas mesmo onde eles não vivem.
Ser uma pessoa fechada e livre de qualquer tipo de convívio social eu não recomendo – e sei que não faz bem. A gente precisa dos outros. Não é o foco aqui. Mas escolher viver a vida da forma que te agradar é, definitivamente, aproveitar.
Eles não fazem muitos filmes sobre maratonas de séries, passeios a sorveterias pela tarde, caminhadas silenciosas e sorrisos no rosto que surgem sem muito motivo. Mas adivinha? Estes momentos continuam valendo a pena.
Eu demorei muito a entender que não havia nada de errado comigo. Que há maneiras diferentes de desfrutar a fase em que você não é 100% adulto, com todas as suas muitas responsabilidades, mas também não é uma criança. Para ser sincera, também não sei como foi que essa noção chegou a mim, só entendi que não havia nada de errado em me divertir dentro de casa. A ficha deve ter caído quando olhei para trás e reconheci que aproveitei, sim – mesmo que tenha sido de uma forma diferente.
Ainda bem que o mundo está cheio de hipóteses e caminhos, não é? Não precisamos seguir sempre pelo mesmo trajeto.
Por isso que estou escrevendo esse texto, caso você se identifique com ele um pouquinho. Da sua forma, você sabe… Você está, sim, aproveitando a sua vida. É isso que importa.