Este vazio. Parece que limparam todo o ambiente, tiraram os móveis e, agora, qualquer pisada de sapato faz eco. Ficaram algumas folhas que caíram da árvore mais próxima – mas não dá vontade de varrer, tampouco tirá-las dali. Elas são a única coisa que restou e vivem nessa existência sem sentido, que não dá lugar a mais nada.
É esse o sentimento. Estranho, é como se não houvesse vontade de mudar o jogo. Na realidade, a vontade até existe, mas não consegue encontrar um início para chegar aos necessários fins. Ela não passa de vontade. E fica assim, igual.
Isso tudo por conta de uma bagunça que fiz. Desordem mesmo, antes de toda essa calmaria que agora habita aqui. É que antes de olhar para dentro de mim, olhei para os outros.
As minhas vontades existiam, mas elas eram brisa perto do vendaval das vontades alheias. Eu considerava tudo, menos o que eu mesma queria. Isso acontecia com tanta naturalidade que já era inerente ao que se passava comigo – e eu achava que a vida tinha que ser assim mesmo.
Não me dava ouvidos. Achava que o meu juízo sobre as coisas não trazia experiência alguma e, por isso, aquilo que as outras pessoas falavam importava mais. Eu passava com um trator pesado e impiedoso por cima de cada pensamento que surgia, cada nova hipótese que a minha cabeça trazia. Não sei desde quando eu comecei a fazer isso… Só sei que me ignorava em detrimento do que o mundo dizia ser certo.
Com isso, a minha autonomia ia embora pelo ralo: estava num caminho que não era meu e nem me dava conta disso. Eu só seguia achando que era o certo a se fazer, por mais que, de pouquinho em pouquinho, calasse aquela que devia ter dado a primeira palavra e a palavra final. Eu.
Não tinha as rédeas da minha própria vida e foi assim que deixei tudo virar a loucura que virou. Um amontoado de significados que não me diziam nada e comandavam uma vida que não era o reflexo da minha imagem – somente uma projeção de todos aqueles que eu julgava importantes para mim.
Absorvi tudo e só percebi que estava errando quando todos foram embora. Naquele momento, achei que estaria perdida e sozinha, mas talvez tenha sido necessário: foi só assim que consegui apreciar a solidão e olhar de frente para tudo o que eu havia escondido em mim.
Fui afastando um a um todos os meus fantasmas, amassados por terem sido guardados por tanto tempo juntos numa mesma gaveta. Hoje estou aqui, num ambiente ainda frio, tentando ver o que faço com eles. Sabe, ainda não sei. Mas só de estarem todos agora comigo, sei que é um grande ponto de partida.
Vou conversando com cada um e buscando entendê-los no ritmo necessário. Aos poucos, preencherei o ambiente com luz novamente. E ela virá apenas de dentro de mim.