Eu não gosto de ficar pensando o tempo todo que sou uma pessoa legal. Sei que sou, mas reforçar esta informação ao meu juízo não é tão bom em alguns momentos. Porque quando acontecem coisas ruins, vem aquele sentimento de injustiça, como se uma criança interna ficasse gritando “eu não merecia isso!” e sabemos bem que gritar não adianta nada. Ninguém vai pegá-la no colo, fazer um afago e dizer “não merece mesmo, por isso vamos desfazer toda essa confusão”.
E então, quando os maus momentos se dão na minha vida, ao mesmo tempo em que metade de mim é a autopiedade que tenta ir para fora, a outra metade fica brigando com ela, dizendo que isso não vai resolver nada. O mundo não caminha sempre pelo lado do que é justo, mesmo que nosso coração assim o diga.
Dói. Dói e ao mesmo tempo constrange saber que essa vontade de chorar não vai levar a lugar nenhum. Saber que mesmo que as lágrimas caiam e a gente deseje ver todo mundo vindo até a gente com um abraço e um “eu te entendo, senta aqui e toma uma água”, não é isso que vai acontecer: as coisas continuariam o seu curso normal e você seguiria chorando no meio da multidão.
É com esse conhecimento que, então, eu tento me consolar e repetir que vai ficar tudo bem, que as coisas vão se acertar, que aquilo não vai acontecer de novo e que muitas belezas voltarão a colorir os meus dias. Que eu me importo comigo mesma e que isso é o fundamental.
Só que não é fácil, porque parece idiota ficar repetindo que a sua melhor amiga é a que está dentro de você e que a gente sabe do nosso valor e de nossa verdade. É complicado, porque você deseja ouvir isso de outras bocas. Precisa de abraços alheios.
Mas agora vou te contar um segredo: quando comecei esse texto, eu realmente estava passando por algo ruim, chorando um pouquinho. Ao mesmo tempo em que escrevia, tinha esperança de que entrasse uma melodia feliz pela minha janela que transformaria tudo. A partir dela, a vida seria maravilhosa e fácil.
Mas a melodia não entrou. E mesmo assim eu sobrevivi.
Hoje me sinto mais forte. Percebi que a gente leva em consideração as coisas que os outros falam porque parecem mais reais. E, bem, porque de fato se alguém falar, aquilo foi real porque aconteceu. E quando a nossa voz interna fala, tudo parece ilusão.
Não é. É real também. É verdade quando dizem que as coisas tem que começar e terminar aqui dentro, porque a gente de fato tem um poder muito grande que acabamos deixando de lado. Eu sei disso. Mas também sei que as coisas podem continuar dando errado e não vou mentir: daqui a três dias posso me pegar chorando e ficar com aquele sentimento de quem não sabe o que fazer. Só que agora tenho a certeza de que consigo passar por isso com um pouco mais de confiança e menos desamparo e desilusão.
Estou comigo mesma e isso basta. Sei que vou pisar em um terreno cheio de obstáculos e que posso cair e me machucar, mas depois voltarei a ficar de pé. Tenho a força necessária para isso.
Estou lutando por mim e tenho valor. Sou uma pessoa legal e, mesmo que isso não ajude muito, vou encarar as notícias ruins de frente e pisar firme para continuar o meu caminho. É, a vida é dura. Mas a sorte é que a gente vai aprendendo a ser mais valente a cada dia.