Não é somente quando você encara o precipício que o medo vem. Se fosse, aliás, estava bom: era só a gente manter distância das montanhas com final abrupto que todo o resto daria muito certo.
Às vezes, ele surge quando você está fazendo qualquer coisa banal – ou até quando espera por algo que, teoricamente, nem tem tanta importância. É aquilo: não há motivos claros para tanto e, mesmo assim, o medo chega e se apropria de um espaço que poderia ser preenchido por um sentimento bom.
Só que ele vem e incomoda, mesmo você não querendo viver em sua companhia. O medo te faz olhar a vida sob uma perspectiva indesejada e te transforma na pessoa que teme se jogar nos planos dos sonhos, que tem receio de falar o que pensa e com a aflição batendo a mil com relação a tudo o que virá no futuro.
Se não o controlamos, ele se torna uma pluma que voa livre e você acaba perdendo os freios. Joga-se o pano e você, então, desiste. O medo toma conta e é isso aí.
Não é difícil se identificar com essa parte, né? Eu sei que também já aconteceu com você. É como uma criança rebelde que fala e faz o que quer. Se ela pode tudo? Talvez não. Mas ela pensa que pode e sai desenfreada e birrenta.
Por isso que a gente vai, aos poucos, tentando se impor. Não é fácil, eu sei, mas, por mais que o medo esteja lá, arrogante e achando que é soberano, você tem que tentar olhá-lo de cima – se dando conta do tanto que ele é pequeno e, em alguns casos, imaginário.
Tem horas que, dependendo do ângulo, você finalmente consegue perceber que ele nem ao menos estava lá. Era tudo fruto da sua imaginação.