Um passarinho me contou que andara me observando nos últimos dias.
Ele disse que notou um padrão em mim – que eu mesma não havia percebido. Por isso, achou melhor dar uma palavrinha comigo, mesmo que não estivéssemos em um conto de fadas em que os animais falam, e aí acrescentou: “Depois você vai achar que estava sonhando, então tudo bem!”
Então desatou a falar.
Ele disse que, cada vez que eu fazia algo com confiança, era tomada por uma alegria que irradiava. Era como se houvesse uma aura colorida em volta de mim e, sempre que isso acontecia, os meus dias fluíam de forma mais leve. Eu desempenhava o resto de minhas tarefas com um sorriso no rosto, mandava mensagens para os amigos dando mais risadas e até assistia às minhas séries de sempre com mais vontade.
As coisas, por menores que fossem, me contagiavam – e o dia passava de forma diferente. Mesmo que eu fosse dormir pensando que não, as últimas horas tinham sido especiais e eu nem me dava conta disso.
Depois, ele falou que o contrário acontecia quando eu concentrava meus esforços em inúmeras tentativas de fazer algo igual ao que alguém havia feito. Nessa hora, contestei: “Oi? Mas nunca tentei copiar ninguém!”
E aí ele me respondeu que eu não estava tentando imitar alguém e que não se tratava disso, mas havia dias em que, mesmo involuntariamente, eu via uma foto e pensava que deveria estar vivendo a mesma rotina daquela pessoa. Minha feição mudava. Depois, observava alguém conquistando algo legal e, mesmo que me sentisse feliz, também era visível que me preocupava por ainda não estar no mesmo patamar.
Também acontecia de eu encarar minha rotina com certo desleixo e não dar a devida importância a ela, como se não importasse tanto.
Nestes dias, ele disse que via facilmente que eu não percebia a minha relevância no mundo. Mas, por me observar por tanto tempo, sabia que eu estava tremendamente enganada.
O passarinho me viu dizer, compartilhar e concordar quando falavam que um dia a felicidade chegaria, mas que eu não havia notado que ela já tinha chegado. Eu não percebia.
Até o passarinho que passava pela minha janela já a havia visto, menos eu. Depois disso, ele não precisou dizer mais nada, o silêncio nos invadiu e demos adeus. Eu sabia o que precisava fazer.
Estava mais do que na hora de mudar essa situação.