Te encontro às 19h

25 de agosto de 2017
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Foto: Reprodução/Tommy Ga-Ken Wan

Foto: Reprodução/Tommy Ga-Ken Wan

Não sei o que responder à sua última mensagem.

A tecnologia trouxe muitas coisas boas pra gente – não dá para negar. Uma delas é poder falar com você a qualquer hora, de qualquer lugar. Mas existe um porém: o fato de que, por entre uma telinha e alguns caracteres, eu leio o que você diz, mas não consigo te ler nas entrelinhas.

Não dá para sentir o seu tom naquela mensagem que você enviou. Não vejo a sua expressão. Eu leio, releio e não sei como absorver o que foi escrito.

Nem ouso ficar perguntando repetidas vezes, porque, entre a gente, nunca existiram muitos desdobramentos de significados. Nós sempre jogamos as cartas na mesa, para que o outro entendesse o jogo de prontidão. Sempre fomos diretos e sinceros a respeito de nossos sentimentos, não somos aqueles que se prendem a grandes rodeios.

Mas agora tudo me parece uma enorme charada. Sua última palavra me lembra um enigma da esfinge, que tenho que quebrar a cabeça para resolver sozinha. Já fui e voltei três vezes nas viagens que fiz em meus pensamentos e não chego a conclusão alguma. Quanto mais tento desembolar as coisas, mais elas voltam a se atracar, formando uma cama de gato sem fim.

Pensei um pouco. Decidi o que fazer.

Te envio uma mensagem: a tal resposta que tanto demorou para chegar depois dos dois risquinhos azuis que marcaram que eu havia te lido (há horas). Desculpe por isso.

Resolvi a questão do jeito que me pareceu mais justo para nós dois. Talvez não o mais fácil, mas acho que as coisas vão se encaminhar de uma forma sincera – e conseguiremos olhar de frente os sentimentos um do outro.

Quer saber? Não tentei transformar emoções em pixels: descartei qualquer possibilidade disso. Joguei para você a única chance de remover os sinais de “via interrompida” da minha mente, para deixar meus sentimentos com relação a você voltarem a fluir.

– Te vejo às 19h?
Enviei.

E a gente se viu.